Brasil, 18 de junho de 2025
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O furor em torno da ivermectina: uma análise detalhada

A ivermectina, inicialmente utilizada como antiparasitário, tornou-se uma polêmica opção de tratamento para várias doenças.

A ivermectina, um medicamento originalmente desenvolvido para tratar parasitas, ganhou notoriedade durante a pandemia de COVID-19. Muitas pessoas passaram a usar a droga fora de suas indicações, acreditando que ela poderia curar o coronavírus. A situação gerou um aumento nas vendas e uma demanda tão alta que algumas lojas de produtos agrícolas se esgotaram. Essa febre em torno da ivermectina não é apenas uma questão de falta de informação, mas também uma expressão das divisões políticas e sociais que marcam a atualidade.

A desinformação e a ivermectina: impacto e consequências

Durante os últimos anos, a popularidade da ivermectina cresceu, especialmente em certos círculos. Apesar das evidências científicas mostrando que o medicamento não reduz os sintomas ou a mortalidade causadas pelo COVID-19, muitos de seus defensores insistem que ele funciona. Essa crença se fortaleceu, em parte, por uma visão de que a ciência convencional estava reprimindo uma solução eficaz para a pandemia.

Como médico que lida com pacientes oncológicos, observei essa mentalidade entre alguns dos meus pacientes. Muitos acreditam que a ivermectina pode ser a resposta para suas condições graves, como o câncer. Um exemplo notável é o relato de um oncologista da cidade de Nova York, que mencionou ter pacientes que, em vez de se submeterem à quimioterapia, estava optando por tratamentos com ivermectina adquiridos em lojas de suprimentos veterinários.

Ivermectina como um aglutinante de crenças e discursos políticos

As campanhas que promovem a ivermectina fazem parte de uma narrativa maior que critica a indústria farmacêutica e a medicina convencional. Os defensores, incluindo figuras políticas, argumentam que essa droga deve ser uma escolha acessível e que sua eficácia está sendo ocultada por elites e indústrias. Isso reforça a ideia de liberdade médica e de resistência ao que consideram uma “medicina woke” ou manipulação por parte da Big Pharma.

Nos EUA, houve um aumento de 964% nas prescrições de ivermectina durante a pandemia, especialmente em estados com maior apoio político aos ideais do ex-presidente Donald Trump. A capacidade de adquirir a medicação sem receita em estados como Arkansas e Idaho solidifica a percepção de que a ivermectina é um símbolo de liberdade médica.

Pesquisas científicas e a busca por credibilidade

Embora haja algumas pesquisas iniciais sugerindo que medicamentos antiparasitários, como a ivermectina, podem ter um papel no tratamento do câncer, os dados são ainda muito insuficientes. Investigações recentes sobre o uso de ivermectina como adjuvante no tratamento do câncer mostraram resultados promissores, mas em uma amostra diminuta de pacientes, o que não permite tirar conclusões robustas. A realidade é que muitos são guiados por base de evidências limitadas ou enviesadas em suas decisões médicas.

Os membros de grupos de Facebook dedicados ao uso de ivermectina frequentemente compartilham relatos de “curas milagrosas” para uma infinidade de condições de saúde, desde Alzheimer até câncer. Apesar da falta de suporte científico, essa comunidade se alimenta da ideia de que a ivermectina é um remédio universal, estendendo sua eficácia para além de seu uso real.

Reflexões sobre o uso indiscriminado de medicamentos

O que antes era um medicamento revolucionário para doenças como a oncocercose agora é visto como uma solução milagrosa, e essa transformação levanta preocupações sobre o uso indiscriminado de medicamentos. O co-descobridor da ivermectina, William Campbell, alertou sobre os riscos associados ao uso excessivo de qualquer medicação, independentemente de sua eficácia comprovada. A saga da ivermectina ilustra a fragilidade da relação entre médicos e pacientes, especialmente quando questões de desinformação e desconfiança permeiam a conversa.

Com isso, observamos que a desinformação e o ativismo político não apenas moldam as opiniões sobre medicamentos, mas também podem prejudicar a saúde pública em um sentido mais amplo. A trajetória da ivermectina, de um remédio eficaz para uma droga controversa, é um exemplo claro de como a medicina e a política podem se entrelaçar de maneiras inesperadas e potencialmente perigosas.

O desafio permanece: como podemos educar a população e promover um diálogo mais baseado na ciência, sem descartar as preocupações legítimas que as pessoas têm em relação ao sistema de saúde atual? O futuro do uso de medicamentos, incluindo a ivermectina, depende de um compromisso contínuo com a informação precisa e a ética médica.

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