Durante a primeira audiência da Comissão de Liberdade Religiosa do presidente Donald Trump, ocorrida em 16 de junho, o bispo de Winona-Rochester, Minnesota, Bishop Robert Barron, fez um alerta sobre o avanço da “ditadura do relativismo” na sociedade americana, ecoando advertências de Papa Benedict XVI.
Religião sob ataque na sociedade moderna
Barron afirmou que “a religião está sendo atacada em nossa sociedade” e referenciou uma homilia do então cardeal Joseph Ratzinger, pronunciada em abril de 2005, pouco antes de sua eleição papal. “Este ataque vem de uma filosofia que Ratzinger chamou de ‘ditadura do relativismo’”, explicou o bispo, acrescentando que essa mentalidade promove “uma cultura da auto-invenção: a priorização completa da autonomia individual, na qual decidimos valor, significado e propósito.”
O conflito entre relativismo e valores tradicionais
Segundo Barron, o relativismo busca diminuir ou eliminar valores considerados objetivos e fundamentados em Deus e na natureza humana, tentando afastar a fé de setores públicos, como educação e saúde. “As tensões surgem justamente por causa das visões religiosas que defendem valores morais objetivos”, afirmou. Muitos membros da comissão e testemunhas manifestaram preocupação com o declínio da liberdade religiosa e a influência de leis e regulações federais e estaduais que, na avaliação deles, ameaçam a prática de fé.
Exemplos disso incluem demandas que obrigam religiosos a violar suas crenças, como as regras de contracepção para cobertura de saúde, que o grupo das Irmãs de Caridade de Little Sisters conseguiu vencer na Suprema Corte, mas continuam lutando contra mandatos similares em estados como Nova York. Além disso, debates sobre direitos parentais na educação, especialmente em relação a questões de identidade de gênero, também foram discutidos na audiência.
Liberdade de culto versus liberdade de exercício religioso
Um tema central foi a distinção entre o direito à adoração e o direito de viver a fé ativamente na sociedade. O especialista Mark Rienzi, presidente do Becket Fund for Religious Liberty, destacou que “a liberdade de viver a fé” é fundamental e que a história dos EUA mostra que “algumas coisas estão além do alcance da política e do governo”, referindo-se a casos históricos como a decisão judicial de 1940 contra a obrigatoriedade de o povo de Testemunhas de Jeová fazer o sinal da cruz, que posteriormente foi revertida.
Separação entre igreja e Estado
As discussões também abordaram a compreensão de que a separação entre Igreja e Estado não deve impedir o reconhecimento da importância da religião na vida pública. O especialista Gerard Bradley afirmou que os fundadores não imaginaram um espaço público “secularizado” onde a fé fosse banida, mas sim um ambiente onde o Estado não imponha sua autoridade à religião. Ele defendeu que promover a religião para o bem comum é legítimo, desde que seja de forma voluntária e sem sectarismo, uma posição que, por sua vez, foi contraposta por Phil McGraw, conhecido como “Dr. Phil”, que defendeu uma distinção entre promoção da religião e promoção da liberdade de escolha.
Perspectivas futuras e recomendações
O comitê, liderado pelo vice-governador do Texas, Dan Patrick, e incluindo figuras como o empresário Ben Carson e a conselheira presidencial Paula White, deve elaborar um relatório no próximo ano para orientar o governo Trump na defesa da liberdade religiosa frente às ameaças crescentes, como perseguição a aborteiras, investigações do FBI contra católicos tradicionais e restrições a locais de culto durante a pandemia.
A procuradora-geral Pam Bondi ressaltou que a liberdade de culto é fundamental à base dos Estados Unidos e reiterou que o trabalho da comissão é crucial para enfrentar as ameaças emergentes. “Cada pessoa deve ser livre para adorar sem medo ou interferência governamental”, afirmou ela.
Para Bondi, as ações recentes dos últimos anos representam um retrocesso, e ela destacou a necessidade de proteger o direito de expressão religiosa em todos os setores da sociedade. A comissão continuará desenvolvendo recomendações para fortalecer esse pilar fundamental da liberdade nos EUA.
Fonte: Catholic News Agency