O Louvre, conhecido como o museu mais visitado do mundo e um símbolo global de arte e história, enfrentou um colapso inesperado nesta segunda-feira, quando seus funcionários decidiram parar devido à pressão insuportável causada pelo turismo em massa. Com milhões de visitantes anualmente, a instituição enfrenta um grave dilema quanto à sua infraestrutura e à gestão de um fluxo cada vez maior de turistas.
A greve que paralisou um ícone
Na manhã dessa segunda-feira, visitantes ilustres, como a famosa Mona Lisa, assistiram a uma cena inusitada: filas gigantescas e visitantes desorientados, enquanto as portas do museu permaneciam fechadas. Os funcionários, incluindo atendentes, agentes de bilhetes e seguranças, se negaram a trabalhar em protesto contra a superlotação, o subdimensionamento da equipe e condições de trabalho que consideram “insustentáveis”.
Os relatos dos visitantes foram variados, com muitos expressando sua frustração. Kevin Ward, de 62 anos, que veio de Milwaukee, comentou: “É a Mona Lisa aqui fora. Milhares de pessoas esperando, sem comunicação, sem explicação. Acho que ela também precisa de um dia de folga.” A situação exacerbou um problema crescente que o Louvre vem enfrentando: a gestão do turismo que há anos ultrapassa a capacidade do museu.
Um reflexo da crise do turismo
A greve no Louvre se deu em meio a um crescente movimento de protesto contra o turismo em massa, que se espalha por várias cidades da Europa, de Barcelona a Veneza. Esses levantes têm como foco a degradação da vida urbana e a deslocação de residentes devido à avalanche de turistas. No dia anterior à greve no Louvre, manifestantes se reuniram em várias partes da Europa, clamando por um modelo econômico que não adoeça a vida cotidiana das comunidades locais.
A situação no Louvre, um dos destinos turísticos mais populares do mundo, revela as tensões que vêm crescendo entre a necessidade de preservar a arte e a cultura e as pressões do turismo em massa. Um plano recentemente anunciado pelo presidente Emmanuel Macron, chamado “Nova Renascença do Louvre”, visa reverter as condições degradantes do museu, mas os funcionários estão céticos quanto à real implementação e resultados desse projeto.
As condições de trabalho que geram descontentamento
Com uma média de 20 mil visitantes por dia, os funcionários afirmam que a experiência no museu se transformou em um “teste diário de resistência”. Observações internas revelam que certas áreas do museu não são mais à prova d’água e que as variações de temperatura podem danificar obras inestimáveis. A presidente do Louvre, Laurence des Cars, admitiu que o museu não está mais de acordo com os padrões internacionais no que se refere a necessidades básicas dos visitantes, como alimentação e banheiros.
“O que começou como uma sessão de informação agendada rapidamente se transformou em uma expressão coletiva de exasperação,” disse Sarah Sefian, uma das funcionárias envolvidas na greve. “Estamos sob pressão agora. Não se trata apenas da arte, mas das pessoas que a protegem.”
Um ícone cultural em crise
Enquanto o Louvre se prepara para enfrentar a crise na infraestrutura e nas condições de trabalho, muitos questionam o futuro de uma das maiores expressões culturais da França. Apesar da promessa de um museu moderno, seguro e melhor estruturado até o final da década, a realidade da queda nos subsídios anuais do governo — que diminuíram em mais de 20% na última década — representa um desafio significativo. O investimento demasiado baseado em receitas de ingressos, doações privadas e taxas de licenciamento pode não ser suficiente para garantir a segurança e a preservação do artefato cultural mais renomado da França.
Enquanto isso, a incerteza persiste sobre quando o Louvre, que atrai milhões com sua rica coleção de arte, poderá retomar seu funcionamento normal. Com as portas do museu temporariamente fechadas, a grande questão permanece: será que o Louvre conseguirá encontrar um equilíbrio entre o turismo, a preservação cultural e o bem-estar de sua equipe antes que seja tarde demais?
A greve reflete uma luta maior em torno do turismo na Europa e levanta questionamentos sobre o futuro de instituições tão significativas em um mundo em que os desafios da superlotação e das condições de trabalho continuam a exigir atenção.