No contexto atual de tensões globais, o Reino Unido enfrenta um novo tipo de ameaça: o risco de estados estrangeiros manipularem o clima para criar caos. A preocupação foi levantada por ministros que alertaram sobre a possibilidade de que adversários como a Rússia utilizem tecnologias de engenharia solar para refletir a luz do sol de volta ao espaço, criando desastres naturais intencionais.
A ameaça da modificação da radiação solar
Cientistas têm explorado a modificação da radiação solar como um método potencial para limitar o aquecimento global. Essa técnica envolve a liberação de aerossóis na atmosfera para refletir a luz solar. Entretanto, especialistas e autoridades do governo britânico expressam preocupação sobre o uso indevido dessa tecnologia por atores independentes ou de terceiros, que poderiam se aproveitar dessas prováveis capacidades para seus próprios fins.
A ministra do Net Zero, Kerry McCarthy, destacou em uma carta que o Reino Unido é um líder no combate às mudanças climáticas e enfatizou a necessidade de entender os riscos associados a tais abordagens. “A evidência científica robusta é essencial para informar uma governança responsável e inclusiva”, escreveu McCarthy. A carta foi divulgada pelo jornal The Telegraph.

Estratégias hostis podem criar caos ao bloquear o sol no Reino Unido.
O papel da Rússia e da engenharia solar
Especialistas alertam que a Rússia, sob a liderança de Vladimir Putin, pode estar cada vez mais inclinada a usar táticas de guerra híbrida, incluindo a manipulação do clima. Matt Ince, diretor associado da Dragonfly Intelligence, mencionou que a engenharia solar pode se tornar uma opção atraente devido ao seu “relativo custo acessível” e à sua viabilidade. Ele também alertou para a possibilidade de que um desastre ambiental orquestrado possa ser uma estratégia que a Rússia consideraria.
Essas táticas poderiam “criar caos e um clima de discórdia, forçando os países a se voltarem para dentro”, o que poderia desestabilizar ainda mais o equilíbrio global.
Mais de 560 acadêmicos assinaram uma carta aberta solicitando que um “acordo internacional de não uso” sobre a geoengenharia solar fosse estabelecido. Na carta, os signatários advertem que a falta de limites pode resultar em uma geopolítica “assustadora e desigual”.
Investimentos e pesquisas governamentais
O governo britânico, por meio da Agência de Pesquisa e Invenção Avançada (Aria), alocou £50 milhões em financiamento para ensaios de campo ao ar livre que incluem a ideia de clarear nuvens para refletir a luz solar. No entanto, até o momento, o governo não tem a intenção de aplicar essa tecnologia como uma forma de “resfriamento climático”.
Um porta-voz da Aria afirmou que “conforme a posição do governo sobre a implementação de modificação da radiação solar, a Aria não está financiando a implementação e não apoia a utilização de abordagens de resfriamento climático”. A entidade visa desbloquear inovações científicas e tecnológicas que beneficiem a todos.
A Aria foi ideia de Dominic Cummings, ex-chefe de gabinete de Boris Johnson, e foi criada em 2021 pelo ex-secretário de negócios Kwasi Kwarteng. Com um orçamento de £800 milhões, a agência se dedica a financiar pesquisas científicas de alto risco e alto retorno, cujos benefícios podem se estender por um longo prazo.
Em um comunicado, um porta-voz do governo reiterou que “não é favorável ao uso de modificação da radiação solar, mas apoia pesquisas cautelosas e controladas que visem melhorar a nossa compreensão de seus riscos e impactos”.
Reflexões finais sobre a geoengenharia
A crescente discussão em torno da geoengenharia solar e suas implicações éticas e práticas levanta perguntas cruciais para o futuro das relações globais e da cooperação internacional. As preocupações expressas por líderes e especialistas demonstram que, enquanto a ciência avança, as políticas e a ética devem acompanhar para garantir que tecnologias poderosas não sejam mal utilizadas para causar mais desestabilização no cenário global.
À medida que o mundo enfrenta desafios climáticos sem precedentes, os debates sobre a geoengenharia solar e suas possíveis aplicações tornam-se ainda mais relevantes, exigindo uma consideração cuidadosa e uma governança adequada.