O ex-diretor do CDC, Dr. Tom Frieden, afirmou nesta quarta-feira (20) que a decisão do secretário de saúde, Robert F. Kennedy Jr., de dissolver o Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) ameaça a saúde pública nos Estados Unidos. Essa ação, sem precedentes, desmonta um processo construído ao longo de seis décadas que orienta a vacinação no país e que colaborou para a eliminação de doenças como o sarampo.
Importância do ACIP para a saúde americana
Frieden ressalta que o comitê, formado por pediatras, epidemiologistas, profissionais de saúde pública e pais voluntários, fornece recomendações transparentes, baseadas em evidências e amplamente confiáveis. As reuniões do ACIP são abertas ao público, transmitidas online e com espaço para comentários, garantindo a transparência do processo decisório.
As recomendações do ACIP tiveram papel central na erradicação do sarampo em 2000, na ampla adoção da vacina contra HPV e na redução significativa de hospitalizações por pneumonia e meningite. Para Frieden, esse histórico é uma conquista silenciosa e vital para a saúde infantil e coletiva.
Controvérsia e conflito de interesses
Kennedy justificou sua decisão alegando conflitos de interesse e USO de dados desatualizados de um relatório de 2007. No entanto, Frieden destaca que, atualmente, apenas um dos 17 membros do ACIP relatou potencial conflito — uma especialista respeitada que se recursou das discussões relacionadas às vacinas.
Além disso, Frieden explica que o papel do ACIP é determinar o uso mais adequado das vacinas aprovadas pela FDA, que passa por rigorosos estudos de segurança e eficácia. Exemplo disso são as recomendações revogadas do uso da vacina RotaShield, a suspensão da vacina nasal contra influenza em 2016-17, a restrição da vacina contra Covid-J&J em 2021 e a redução de grupos recomendados para a nova vacina contra o RSV, todas decisões independentes e baseadas em dados médicos.
Consequências para a saúde pública e o sistema de imunização
Ao suspender o ACIP, Kennedy coloca em risco programas essenciais como o Vacines for Children (VFC), que oferece imunizações gratuitas para metade das crianças americanas. Sem recomendações oficiais, milhões podem perder acesso às vacinas, enfrentando custos elevados, o que pode diminuir a adesão e causar surtos de doenças evitáveis.
Frieden alerta ainda sobre os custos econômicos: doenças preveníveis geram despesas médicas e perdas de produtividade, além de sobrecarregar o sistema de saúde. A resposta a emergências, como pandemias, também é comprometida, já que o ACIP orienta a distribuição de vacinas em momentos críticos.
Futuro da vacinação e riscos de desinformação
Frieden questiona quem serão os novos integrantes do comitê, se profissionais qualificados ou indivíduos com teorias conspiratórias, o que pode aumentar a disseminação de informações falsas. A confiança nas recomendações, essenciais para médicos e famílias, fica ameaçada, elevando o risco de mais surtos e mortes evitáveis.
Ela reforça que a desorganização do comitê prejudica o combate às doenças e coloca em risco décadas de avanços na imunização infantil e na proteção da saúde pública americana.
