Ainda que ocupe uma posição importante na equipe econômica, Simone Tebet não faz parte do núcleo mais decisório do governo Lula, atuando com perfil de apoio e mantendo distância das principais negociações políticas. Desde que assumiu o ministério, ela tem evitado protagonismo e limita sua presença às reuniões mensais da Junta de Execução Orçamentária (JEO), colegiado do qual participa por indicação do Ministério do Planejamento.
Perfil discreto e alinhamento com Haddad
Formada em relação de lealdade ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Tebet evita disputas diretas com o núcleo político mais próximo ao presidente Lula. Segundo interlocutores, ela se apresenta como coadjuvante na equipe do ministro e não costuma participar de encontros no Palácio do Planalto, restrito ao necessário para o cumprimento de sua agenda oficial.
Aliados afirmam que o comportamento pragmático de Tebet reflete uma estratégia de manter a sua autonomia, mesmo em um governo com núcleo decisório restrito. Nos corredores do Planalto, sua atuação é vista como de quem entende os limites de uma pasta técnica, distante das disputas internas e das decisões mais polêmicas, como as relacionadas ao pacote fiscal.
Participação limitada nas crises e decisões do governo
Durante a crise gerada pelo aumento das alíquotas do IOF, Tebet foi pegas de surpresa com o decreto que elevou o imposto, anunciado horas antes de ser comunicado oficialmente ao seu ministério. Sua equipe não participou das discussões iniciais e só foi informada após a repercussão negativa, que levou à reconsideração de algumas medidas.
Após o episódio, Tebet entrou de férias e só retornou ao trabalho em junho, tendo seu ministério atuado principalmente na busca por alternativas para compensar a queda de arrecadação provocada pelas mudanças fiscais. Ela apoiou a restrição do acesso ao seguro-defeso para pescadores artesanais, uma das medidas de ajuste orçamentário adotadas pelo governo.
Relacionamentos políticos e autonomia de atuação
Mesmo com uma postura mais reservada, Tebet mantém bom relacionamento com integrantes do PT, como Haddad e Marina Silva, aliados que apoiaram sua candidatura à presidência em 2022. Contudo, seu perfil mais liberal e sua origem política no MDB a colocam bastante distante do núcleo mais à esquerda do governo.
De acordo com aliados, Tebet tenta evitar embates públicos com o ministro da Fazenda, respeitando protocolos e manifestando-se apenas quando estritamente necessário. Sua presença na equipe é vista como a de uma política que cumpre missão, sem ambição de protagonismo maior na coordenação das ações do governo.
Desafios e futuro no governo
Apesar de relevante, a atuação de Tebet tem sido pouco aproveitada em áreas de maior pressão, como as negociações com o Congresso sobre o pacote fiscal. Sua equipe sofreu desestruturações, com saídas de secretários por vontade própria, que refletiram a dificuldade de implementar uma agenda de contenção de gastos diante do cenário de maior flexibilidade orçamentária defendido pelo núcleo da Fazenda.
Enquanto isso, Tebet mantém sua estratégia de anonimato político, focada em projetos de maior impacto, como a proposta de interligação regional da América Latina. Sua aposta é na agenda de infraestrutura e comércio internacional, tentando consolidar uma atuação de destaque fora do centro das decisões econômicas do governo.
Segundo analistas, sua postura demonstra uma tentativa de preservar sua autonomia política e uma possível candidatura em 2026, embora ela tenha sinalizado que pode permanecer no cargo até o fim do mandato se Lula desejar.
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