No primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a percepção de deterioração da sociedade brasileira aumentou significativamente, revela a pesquisa bianual Ipsos, realizada em 31 países. Com este estudo, os brasileiros expressam uma sensação crescente de que o país está em declínio, revertendo a melhora percebida no início da administração atual. Os números mostram um panorama desolador, em que 69% dos entrevistados identificam uma deterioração social, um aumento de sete pontos em relação a 2023, colocando o Brasil em quarto lugar no ranking global.
A percepção de declínio acentua-se
O percentual de brasileiros que vêem o país em declínio subiu para 62%, um aumento de nove pontos em relação a pesquisas anteriores. Com isso, o Brasil supera a média global de 57%. Esses dados retratam uma frustração com as condições atuais, refletindo uma desconfiança em relação às ações do governo. Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, comenta que “os números de percepção de sociedade deteriorada sempre foram muito altos entre os brasileiros, mas houve uma queda logo após a eleição de Lula 3. Parecia haver uma esperança de que a sociedade estava começando uma nova etapa.”
Preocupações com a corrupção e a elite econômica
Além da degradação social, a pesquisa também indica um crescente temor de corrupção, com temas relacionados voltando a ser usados contra o governo petista. A maioria da população (76%) acredita que a economia nacional é manipulada para favorecer os “ricos e poderosos”, um número que supera em oito pontos a média mundial. Essa sensação de exclusão contribui para um sentimento de desconfiança em relação aos partidos políticos tradicionais, com 73% dos brasileiros afirmando que os representantes não se importam com a população.
O chamado por um líder forte
A pesquisa Ipsos Populism Report tem mostrado que os brasileiros estão cada vez mais atraídos por ideias populistas. Embora tenha havido uma leve queda, 58% dos entrevistados defendem a necessidade de um líder político disposto a “quebrar regras” para promover mudanças. Além disso, 71% acreditam que é necessário eleger um forte líder para “tirar o país das mãos dos ricos e poderosos.” Essa tendência indica uma fragilidade no sistema político e um anseio por alternativas mais radicais.
O ciclo do populismo
Calliari avalia que o levantamento pode dar origem a um ciclo que aumenta o potencial de populismo no país. “Fica aberta a oportunidade para algum candidato se conectar diretamente com o povo e não ser identificado como parte do establishment político”, enfatiza. Essa mudança de percepção entre a população pode criar um terreno fértil para surgimento de novos líderes que proponham soluções fora do habitual.
O Brasil em comparação com outros países
Os dados são ainda mais preocupantes quando colocados em perspectiva global. Apesar de Lula apresentar números mais favoráveis se comparados com o governo de Jair Bolsonaro, a insatisfação é alarmante. Em 2021, 72% viam a sociedade deteriorada sob sua gestão. A análise da situação econômica na Alemanha, onde 77% dos cidadãos também percebem um declínio, mostra que essa é uma tendência crescente em várias nações, refletindo uma frustração global com as estruturas sociais e econômicas vigentes.
Metodologia da pesquisa
A pesquisa Ipsos Populism Report 2025 entrevistou 23.228 pessoas na plataforma online Global Advisor, distribuídas em 31 países entre 21 de fevereiro e 7 de março de 2025. A amostra brasileira se compõe de mil entrevistas, representando majoritariamente a população urbana do país, e possui uma margem de erro de 3,5 pontos. Esses resultados são um reflexo de uma sociedade em busca de mudanças significativas e imediatas.
Os dados desta pesquisa evidenciam um momento crítico da sociedade brasileira, que se vê diante de incertezas e desafios, buscando líderes que possam restaurar a crença em um futuro melhor.