Ao abrir o 1º Simpósio STJ-Interpol – A Interpol e a Criminalidade Contemporânea, realizado nesta quinta-feira (12), o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Herman Benjamin, enfatizou a importância da aproximação entre o Poder Judiciário brasileiro e a organização policial internacional. A iniciativa busca fortalecer redes de cooperação, inteligência e tecnologia no enfrentamento às organizações criminosas transnacionais.
Cooperação internacional na luta contra o crime
Durante o evento, o ministro Herman Benjamin afirmou que a parceria entre o Judiciário e órgãos internacionais, como a Interpol, é fundamental para garantir respostas mais rápidas e eficazes às ameaças do crime organizado. “Estamos abrindo caminho para uma cooperação intensa com foco em inteligência, tecnologia e capacitação da magistratura”, declarou.
O simpósio, apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), contou com a presença de autoridades e especialistas de diferentes países, que discutiram estratégias de combate ao crime organizado e às redes ilícitas em escala global.
Desafios do crime transnacional e a necessidade de ações coordenadas
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, também participou da abertura e ressaltou que o crime organizado é um dos maiores desafios atuais à segurança mundial. Segundo ele, a eficácia na luta contra essa criminalidade exige ações coordenadas entre os diferentes níveis de governo e instituições.
Lewandowski citou o avanço do governo na proposta do Sistema Único de Segurança Pública, inspirado no SUS, que visa integrar as forças de segurança e inteligência do país. “A integração dos entes envolvidos na luta contra o crime organizado é fundamental. Essa prática tem sucesso em outros países e queremos implementar no Brasil”, afirmou.
Operações em tempo real e o papel da tecnologia
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, destacou a necessidade de atuação articulada entre a Justiça Federal, o Ministério Público e organizações internacionais, com base em inteligência e instrumentos modernos de cooperação. “Enquanto as redes criminosas operam em tempo real, o sistema burocrático muitas vezes trava o acesso às informações”, alertou.
A representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Elena Abbati, evidenciou que organizações criminosas aproveitam momentos de instabilidade para ampliar suas atividades, como tráfico de pessoas, crimes ambientais, lavagem de dinheiro e trabalho escravo. “Este simpósio é essencial por abordar fenômenos globais que afetam a segurança pública, o meio ambiente e a estabilidade das instituições”, ressaltou.
Compromisso da Polícia Federal e da Interpol
O delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, reforçou o compromisso do STJ com a segurança pública e destacou a importância de reunir magistrados, membros do Ministério Público e policiais para discutir soluções integradas. “Segurança pública não se faz com frases de efeito, mas com conhecimento, técnica e ações concretas”, afirmou.
Apoio incondicional da Interpol às investigações nacionais
Na primeira conferência do dia, o delegado Valdecy de Urquiza e Silva Júnior, secretário-geral da Interpol, ressaltou a relevância do fortalecimento da cooperação internacional na combate às organizações criminosas. “O crime organizado se transformou em um fenômeno global, altamente estruturado, com forte inserção tecnológica e infiltração em sistemas econômicos e políticos”, alertou.

Ele destacou que nenhuma nação pode enfrentar sozinha a criminalidade transnacional e reforçou o compromisso da Interpol em oferecer suporte técnico, estratégico e operacional às forças policiais de seus países-membros, incluindo o Brasil, através de bancos de dados acessíveis e de alto desempenho.
Novo paradigma na luta contra o tráfico internacional
O policial alemão Mark Philipp Mülder, responsável pela Unidade de Redes Criminosas da Interpol, abordou a necessidade de criatividade e cooperação na repressão ao tráfico internacional de drogas, que movimenta aproximadamente U$ 650 bilhões anualmente. Segundo ele, as organizações criminosas modernas funcionam como empresas, com líderes que atuam como CEOs, e usam avanços tecnológicos para ampliar suas operações.
Mülder afirmou que o combate ao crime organizado exige uma resposta coletiva e coordenada, pois essas redes criminosas operam sem fronteiras, migrando rapidamente entre países e continentes.
Para reforçar essa estratégia, a Interpol mantém 19 bancos de dados acessíveis a 196 países-membros, onde diariamente são realizadas cerca de 22 milhões de buscas, com resposta em meio segundo, apoiando investigações e ações internacionais contra o crime organizado.
A discussão evidenciou que a luta contra o crime transnacional demanda inovação, cooperação e uso intensivo de tecnologia, pilares essenciais para enfraquecer as organizações criminosas e garantir segurança global.