Em um cenário surpreendente, a paixão pelo futebol e as tensões imigratórias se entrelaçam na vida de brasileiros residentes em Boston. Manny Mizael, que deixou o Brasil há 27 anos, atualmente lidera um grupo de torcedores do Flamengo em Massachusetts. No entanto, a intensa dedicação a seu amado time, um dos mais populares do Brasil, foi ofuscada por preocupações com as políticas de imigração do governo Trump, resultando no cancelamento de eventos e festividades previamente planejadas.
Impacto das políticas de imigração nas celebrações do Flamengo
Mizael e seu grupo costumam organizar exibições de jogos que atraem centenas de entusiastas, criando um espaço para a comunidade brasileira em Boston. Entretanto, este ano, a ansiedade tomou conta, não apenas pelas vitórias do Flamengo, mas também pelas crescentes políticas de repressão à imigração recentemente implementadas. O temor de que um evento pudesse se tornar alvo de uma operação de imigração fez com que o grupo decidisse interromper sua festa programada para um jogo em fevereiro.
“As pessoas estão sendo arrancadas das ruas e presas. Decidimos não fazer o jogo porque achamos que isso poderia arruinar a vida de muita gente”, afirmou Mizael, expressando o peso emocional que essas decisões carregam. O cancelamento da festa não está isolado; as discussões sobre viagens em grupo para partidas em outras cidades também foram descartadas, reforçando a preocupação de que um ônibus cheio de brasileiros em situação irregular pudesse ser abordado.
Preocupações que se estendem até a Copa do Mundo de 2026
O impacto das rígidas políticas migratórias do governo Trump é ainda mais evidente quando se observa o futuro dos eventos esportivos, especialmente a Copa do Mundo de 2026. A previsão é de que cerca de 6,5 milhões de pessoas compareçam ao torneio, sendo a maioria delas nos Estados Unidos, onde ocorrerão a maior parte dos jogos. Apesar da expectativa, muitos torcedores, que frequentemente economizam por anos para realizar essa viagem única na vida, já se mostram inseguros quanto à possibilidade de comparecer ao evento.
Os tempos de espera para vistos são alarmantes, com países como a Colômbia enfrentando prazos que se estendem além da Copa. Além disso, a situação do Irã, que também está na lista de países com restrições de viagem, coloca em risco a presença de torcedores que já sonham com essa experiência histórica. A curto prazo, as políticas atuais podem prejudicar a diplomacia esportiva, já que a FIFA e o governo americano não estabeleceram um regime especial de isenção de visto, como foi feito em Copas anteriores na Rússia e no Catar.
Efeitos colaterais em toda a organização do torneio
Além dos desafios relacionados aos torcedores, as políticas migratórias agravaram a situação para a FIFA, que enfrenta dificuldades em contratar pessoal qualificado para a organização do torneio. Dificuldades na obtenção de vistos e a exigência de que as contratações sejam feitas preferencialmente por cidadãos americanos colocam a instituição em uma posição delicada.
Apesar das dificuldades, a FIFA planeja sediar a Copa do Mundo de Clubes, que já acumula problemas em suas vendas de ingressos devido à falta de segurança e à incerteza quanto ao drama migratório. Vice-presidente da FIFA, Gianni Infantino se reuniu com o presidente Trump para discutir as preocupações em torno da presença internacional durante esses eventos, buscando garantir que a Copa do Mundo de 2026 se torne uma celebração unificadora.
Com estas barreiras, o portador de ingressos se sentirá amedrontado e, para alguns, a perspectiva de viajar para a Copa do Mundo pode parecer um sonho distante. Os eventos que antes eram motivo de celebração para comunidades inteiras, como a festa do Flamengo, agora se tornam um complexo campo de incertezas e inseguranças.
É um tempo de reflexão tanto para os amantes do futebol quanto para a comunidade em geral, que deve se perguntar: até que ponto as políticas governamentais podem impactar a cultura do esporte e as tradições que unem os brasileiros ao redor do mundo?
Enquanto Mizael e outros torcedores do Flamengo aguardam tempos mais seguros e festivos, a interseção entre o amor pelo futebol e as questões imigratórias continua a moldar a experiência de milhares de brasileiros longe de casa.