Brasil, 13 de junho de 2025
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Adam Smith e a memória de sua mãe revelam desigualdades atuais

Histórico criador do capitalismo viveu com a mãe, refletindo sobre o papel contínuo das mulheres na economia e nos cuidados domésticos.

Adam Smith, considerado o pai do capitalismo de mercado, viveu com a mãe enquanto escrevia sua obra mais famosa, A Riqueza das Nações, em 1776. Enquanto ele elaborava suas teorias, ela cuidava da casa, desempenhando um papel que muitos continuam a associar às mulheres na sociedade moderna, mesmo após séculos de avanços.

A invisibilidade do trabalho doméstico na teoria econômica de Smith

Apesar de sua importância, o trabalho de cuidar do lar foi excluído da análise de Smith sobre a busca pelo interesse próprio e os “mãos invisíveis” do mercado. Como aponta a filósofa feminista Silvia Federici, essa ausência reforça a visão de que o papel de cuidar da sociedade é uma consequência natural e biologicamente predeterminada às mulheres.

O peso do trabalho não remunerado ainda recai sobre as mulheres

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), até 2021, as mulheres continuam a realizar, em média, mais de uma hora extra por dia em tarefas domésticas e de cuidados não remunerados, mesmo quando trabalham fora.

Federici, pioneira no movimento Wages for Housework, afirma que】o trabalho doméstico sem pagamento é uma forma de opressão econômica de gênero, a base sobre a qual todo o capitalismo moderno foi construído. “Queremos chamar o que fazemos de trabalho, para que possamos redescobrir o que é amor”, escreveu em 1975.

Consequências econômicas e sociais do desequilíbrio de gênero

Dados do Bureau of Labor Statistics mostram que, em média, homens que trabalham realizam 57 minutos a mais de trabalho remunerado por dia, enquanto as mulheres dedicam cerca de uma hora e dez minutos a mais ao cuidado não remunerado.

Essa sobrecarga impacta a aposentadoria feminina, que, em média, rende 22% a menos em benefícios do Social Security, além de afetar a própria estabilidade financeira, com um índice maior de pobreza entre mulheres divorciadas. Aproximadamente 61% das mulheres deixam seus empregos por causa de responsabilidades familiares, uma decisão que limita suas contribuições para a aposentadoria.

Os impactos culturais e as políticas de apoio às famílias

A concepção de que as mulheres são “naturais” cuidadoras reforça uma cultura que valoriza menos o trabalho feminino e reforça a falta de políticas públicas de apoio, como creches ou licenças maternidade pagas. Como resultado, a totalidade das tarefas de cuidado recai, muitas vezes, sobre a parceira de menor renda, perpetuando desigualdades ao longo da vida.

Segundo pesquisa de Claudia Goldin, economista premiada com Nobel, a dinâmica de carreiras é que um dos cônjuges tende a abrir mão de posições mais exigentes para cuidar da família, aprofundando o hiato salarial e dificultando a ascensão feminina no mercado de trabalho ao longo do tempo.

Desafios atuais e caminhos futuros

Mesmo com o progresso das mulheres na força de trabalho, a desigualdade de oportunidades e a carga de trabalho não remunerado continuam a prejudicar muitas delas. A sociedade enfrenta o desafio de reconhecer e valorizar o trabalho doméstico e garantir políticas que promovam uma distribuição mais equitativa das tarefas familiares.

Revisitar a história de Adam Smith e compreender o papel invisível das cuidadoras é um passo importante para refletirmos sobre as bases do sistema econômico e social que ainda perpetuam desigualdades de gênero.

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