Na manhã desta segunda-feira (9), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), informou que duas postagens feitas por ele na rede social X (antigo Twitter) em 2021 não representam sua opinião pessoal acerca das urnas eletrônicas. A declaração foi emitida durante seu depoimento como réu no inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF).
Declarações contraditórias na rede social
Durante o depoimento, que ocorreu na sala da Primeira Turma do STF em Brasília, Ramagem afirmou que houve uma discrepância entre suas postagens nas redes sociais e suas convicções privadas. “Publicamente, houve duas publicações que diferem muito do meu pensamento privado”, declarou Ramagem aos ministros da Corte.
O deputado descreveu as duas ocasiões em que se manifestou sobre o tema nas redes sociais, mais exatamente nos dias 24 de maio e 1º de agosto de 2021. Naquele período, estava em discussão no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, que tinha o deputado Filipe Barros (PL-PR), um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, como relator.
Conteúdo das postagens e debate legislativo
A primeira postagem de Ramagem foi feita em 24 de maio de 2021, quando o deputado Filipe Barros anunciou que seria o relator da PEC do voto impresso. Estando ciente da relevância do tema, Ramagem apenas retweetou a informação. Em 1º de agosto, faltando pouco para a votação, ele repetiu quase integralmente o conteúdo de sua postagem anterior.
A mensagem que Ramagem compartilhou em ambas as datas dizia: “Voto auditável significa segurança no pleito eleitoral e evolução nas urnas. Assegura integridade, transparência aos resultados do sufrágio universal, compromisso com a representatividade popular e a democracia.” A diferença no conteúdo é que, em maio, ele elogiou Barros pela relatoria.
Segundo o deputado, a essência dessas publicações não deve ser interpretada como uma crítica ao sistema de votação eletrônico, mas sim como parte do debate legislativo vigente na época em que a proposta estava sendo discutida no Parlamento.
Depoimento no inquérito do STF
Ramagem fez suas explicações enquanto detalhava materiais encontrados em seus dispositivos, que continham críticas ao sistema eletrônico de votação. Ele frisou que esses arquivos expressavam apenas opiniões pessoais e não um plano de ataque às instituições democráticas.
Alexandre Ramagem é o segundo réu a depor nas audiências conduzidas pelo STF, que começaram na segunda e devem se estender até sexta-feira (13). O primeiro a ser ouvido foi o tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de ordens de Bolsonaro, que atualmente colabora com a Justiça na condição de delator.
Os depoimentos estão sendo realizados presencialmente na sala da Primeira Turma do Supremo, em Brasília, de acordo com a ordem alfabética dos réus. O ex-presidente Jair Bolsonaro está programado para depor por último. A única exceção dentre os acusados é o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, que se encontra em prisão preventiva no Rio de Janeiro e participa das sessões por videoconferência.
A situação envolvendo Ramagem e as urnas eletrônicas destaca as tensões políticas atuais no Brasil e levanta questões sobre transparência e confiança no sistema de votação, um tema que continua a ser um ponto de debate acalorado entre parlamentares e cidadãos.