Os bispos dos Estados Unidos estão apelando ao Congresso para que priorize a dignidade da pessoa humana e o bem comum na elaboração de regras para o desenvolvimento de inteligência artificial (IA). A mensagem foi divulgada nesta segunda-feira (9), após discussões sobre a legislação que regula a tecnologia no país.
Apelo da Igreja Católica aos legisladores americanos
O presidente do Comitê de Comunicação da USCCB, Bispo William D. Byrne, destacou que “a inteligência artificial está moldando rapidamente o futuro da nossa sociedade” e frisou a responsabilidade dos legisladores em garantir que essa tecnologia beneficie toda a humanidade. “Como pastores encarregados do cuidado com a vida e a dignidade humanas, pedimos que vocês escutem o chamado do Santo Padre, Papa Leo XIV, para desenvolver a IA com responsabilidade e discernimento”, afirmou Byrne em nota oficial.
Princípios éticos essenciais na matéria
Respeito à dignidade e à verdade
Um dos principais princípios defendidos pelos bispos é que “a dignidade inerente a toda pessoa humana” deve estar sempre no centro do desenvolvimento tecnológico. “A IA deve ser uma ferramenta que, orientada por princípios morais sólidos, ajude a superar obstáculos na vida e melhorar as condições humanas, sem substituir a moralidade ou os julgamentos éticos”, enfatizaram na carta aos legisladores.
Além disso, os bispos alertaram sobre o uso inadequado da IA na disseminação de notícias falsas, deepfakes e na manipulação de informações, reforçando que “há a necessidade de supervisão humana e de uma responsabilidade bem definida para promover transparência e garantir processos democráticos justos”.
Cuidados com os vulneráveis e a economia
Eles também ressaltaram que a tecnologia deve apoiar especialmente os mais pobres e vulneráveis, contribuindo para reduzir desigualdades sociais e econômicas. “A IA só será verdadeiramente benéfica se for usada para ajudar os mais necessitados e garantir sua participação equitativa em seu desenvolvimento e uso”, afirmaram.
Na área econômica, os bispos abordaram preocupações como a perda de empregos, desigualdade e exploração. Ressaltaram a importância de políticas públicas que protejam os trabalhadores, promovam capacitação profissional e assegurem fiscalização adequada do uso da IA pelo governo, incluindo a supervisão de decisões relacionadas ao mercado de trabalho.
Considerações sobre políticas públicas e regulação
Os prelados ressaltaram que a IA tem potencial de beneficiar a sociedade quando desenvolvida de forma ética, mas que seus malefícios podem superar os benefícios se não forem tomadas precauções. “Políticas devem garantir que a tecnologia não perpetue preconceitos ou cause danos ambientais, e que seja usada com um compromisso ético”, indicaram.
A preocupação com o impacto ambiental foi destacada, especialmente quanto ao consumo energético e ao descarte de resíduos eletrônicos contendo metais pesados, como mercúrio e chumbo. “A IA pode ajudar a enfrentar crises ambientais, mas deve haver uma regulação que limite seu uso excessivo de recursos”, alertaram.
Posição da Igreja e próximos passos
Os bispos afirmam que as linhas éticas propostas não são exaustivas, mas representam um ponto de partida para orientar o debate legislativo. “Nosso objetivo é colaborar com os responsáveis políticos, oferecendo orientação baseada nos valores humanos e sociais cristãos”, afirmou Byrne.
O documento reforça que “estamos prontos para ajudar na orientação desse processo com orações e aconselhamento, a fim de assegurar que a inteligência artificial seja uma força para o bem comum e o respeito à vida humana”.
Segundo fontes oficiais, o Congresso dos EUA discute atualmente o projeto de lei “One Big Beautiful Bill Act”, que pode afetar o desenvolvimento da IA ao restringir regulações estaduais por até 10 anos, concentrando o controle em nível federal. Caso aprovado, o projeto precisa passar pelo Senado e, posteriormente, retornar à Câmara para aprovação final.
As discussões continuam, e a posição da Igreja reforça a necessidade de uma regulamentação que priorize os direitos humanos e os valores morais na era da inteligência artificial.