No último interrogatório realizado no Supremo Tribunal Federal (STF), Mauro Cid, tenente-coronel e ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, fez revelações preocupantes sobre o apoio que os acampamentos de bolsonaristas, que clamavam por um golpe, receberam. Segundo ele, esse apoio já existia de maneira tácita e se tornou mais evidente a partir do dia 11 de novembro de 2022, quando os maiores comandantes militares do país publicaram uma nota oficial em defesa da “liberdade de reunião”. Essas declarações levantam questões sobre a relação entre a antiga cúpula do Exército e os movimentos golpistas no Brasil.
O apoio tácito e formal do Exército
Cid, durante seu depoimento, pontuou que a postura do Exército em relação aos acampamentos organizados por apoiadores de Bolsonaro sempre flertou com a ambiguidade, especialmente por parte do general Freire Gomes e de outros líderes militares. A nota oficial emitida pelos comandantes, que reforçava o direito à reunião, é vista como uma espécie de validação para as mobilizações que ocorreram após a derrota de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. Esses acampamentos, inicialmente pequenos, cresceram em número e influência ao redor do país, fomentando ambições golpistas entre um segmento da população.
A atuação do general Freire Gomes
O general Freire Gomes, que foi o comandante do Exército até a troca de comando que ocorreu com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentava-se como um oficial legalista. No entanto, ao permitir ou, pelo menos, não coibir a multiplicação dos acampamentos, sua postura é questionada. Importante destacar que o maior desses acampamentos, situado em frente ao Quartel-General em Brasília, foi o ponto de partida para os atos golpistas que ocorreram em 8 de janeiro de 2023, em que manifestantes invadiram prédios do governo e do Legislativo.
As declarações de Cid e o papel do Exército
Embora Freire Gomes tenha se tornado uma figura malvista por parte de radicais entre os bolsonaristas, suas ações e omissões em relação aos acampamentos trouxeram à tona debates sobre sua lealdade ao regime democrático. Durante o depoimento ao STF, o general se defendeu, negando ameaças contra o ex-presidente. Ele afirmou que não houve qualquer tipo de ordem para prender Bolsonaro, desmentindo alegações divulgadas por veículos de comunicação.
“A mídia até reportou aí que eu teria dado voz de prisão ao presidente. Não aconteceu isso de forma alguma”, disse Freire Gomes em sua defesa. Este esclarecimento, no entanto, não apaga as dúvidas sobre o que realmente ocorreu nos bastidores e a leniência das autoridades em relação a um movimento que, segundo muitos analistas, visava a desestabilização das instituições brasileiras.
Implicações para a democracia brasileira
As declarações de Cid e a interpretação do papel do Exército no apoio tácito a ações golpistas trazem à tona uma discussão crítica sobre a saúde da democracia no Brasil. Há um crescente clamor por esclarecimentos sobre até que ponto as forças armadas devem se envolver em questões políticas e como suas ações impactam a confiança da população nas instituições democráticas. O STF, por meio das investigações conduzidas, tenta resgatar a credibilidade do sistema e assegurar que ações antidemocráticas não sejam toleradas.
Com a continuação dos depoimentos e o aprofundamento das investigações, o Brasil observa atentamente a evolução deste caso, que é fundamental para a reconstrução da confiança na democracia e na manutenção da ordem constitucional.
Enquanto isso, os eventos de 8 de janeiro permanecem como um lembrete do que pode ocorrer na ausência de vigilância cidadã e institucional. O papel do Exército, conforme discutido por Cid e outros, servirá como um indicativo importante para o futuro das relações civis-militares no Brasil.