A indústria de transformação brasileira registrou uma retração de 1% no PIB do primeiro trimestre de 2025 em comparação com o último trimestre de 2024, aponta estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Os segmentos de alta tecnologia, que dependem de investimentos frequentes e importação de componentes, sofreram queda mais acentuada, refletindo a crise de confiança no cenário econômico nacional.
Dados confirmam desaceleração industrial e maior déficit comercial
Dados recentes indicam uma freada na produção industrial, que cresceu apenas 0,1% em abril, abaixo das expectativas de analistas. Além disso, o déficit comercial da indústria brasileira atingiu o maior nível em 13 anos, dificultando ainda mais o cenário de recuperação do setor. Entenda os fatores por trás do aumento das importações.
Em 2024, a indústria de transformação registrou crescimento de 3,8% no PIB, impulsionada por juros menos restritivos e demanda em alta; contudo, essa retomada vem sendo freada devido às condições atuais do mercado.
Juros elevados e instabilidade cambial pesam sobre o setor tecnológico
De acordo com economistas e empresários, o cenário de juros altos e câmbio volátil, agravado pela instabilidade política e pela guerra comercial iniciada pelos EUA, limita o avanço da indústria, especialmente a de alta tecnologia. Rafael Cagnin, diretor-executivo do Iedi, explica que setores mais intensivos em tecnologia, que produz bens duráveis financiados a prazo, sentem com mais intensidade esse impacto.
“Produtos mais caros e duráveis dependem de crédito para serem comercializados; por isso, taxas de juros elevadas reduzem a demanda e os investimentos nessas áreas”, afirmou Cagnin. Essa conjuntura reflete-se na redução de investimentos por empresas como a Novus, fabricante de equipamentos eletrônicos, que adia planos de expansão devido ao custo do crédito, que ultrapassa 15% ao ano.
Impactos do alto custo de financiamento na indústria de alta tecnologia
Marcos Dillenburg, CEO da Novus, declarou que a alta dos juros bloqueia novos investimentos e atrasa obras de ampliação. “Alguns projetos foram postergados, pois não quero assumir dívidas de longo prazo com essa taxa de juros”, explicou. Ele acrescenta que o cenário de financiamento mais caro também reduz a demanda por seus produtos.
O estudo do Iedi aponta que, no primeiro trimestre, a alta intensidade tecnológica cresceu apenas 1,9%, uma desaceleração significativa em relação ao trimestre anterior, de 15%. Setores de máquinas, equipamentos e produtos eletroeletrônicos, como computadores e smartphones, estão entre os mais atingidos, com sinais claros de arrefecimento.
Desafios e perspectivas para a retomada
Especialistas avaliam que a recuperação da indústria depende de uma estratégia de política econômica que consiga equilibrar o controle da inflação e o estímulo ao crescimento. Jonathas Goulart, economista-chefe da Firjan, destaca que a falta de coordenação entre as ações do governo e do Banco Central prejudica o setor produtivo.
“Aumento do curto prazo pelo governo e elevação dos juros pelo BC criam um ciclo vicioso, dificultando investimentos e consumos industriais”, analisa Goulart. A expectativa é que, sem medidas favoráveis, a tendência de desaceleração continue ao longo de 2025.
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