A Prefeitura do Rio de Janeiro está exigindo que empresas realizem o plantio de árvores como parte das medidas compensatórias por projetos que envolvem a remoção de árvores. No entanto, a falta de informações claras sobre onde essas mudas estão sendo plantadas levanta preocupações sobre a eficácia dessas iniciativas. Dados da própria prefeitura indicam que a cidade enfrenta um déficit alarmante de 800 mil árvores, com uma concentração maior nas zonas Norte e Oeste.
Déficit de árvores e a pressão urbana
A crescente pressão de novos empreendimentos e construções agravou a situação das áreas verdes no Rio de Janeiro. Quando um projeto é considerado de interesse público, é permitido a retirada de árvores, e o responsável é obrigado a plantar um número maior de espécies em outro local. No entanto, a falta de dados sobre esse replantio gera desconfiança e incertezas. Desde 2023, o Conselho Municipal do Meio Ambiente tem solicitado informações ao poder executivo, mas, até o momento, sem sucesso.
Mesma história em três secretarias diferentes
Atualmente, as medidas compensatórias relacionadas aos cortes de árvores têm passado por três secretarias diferentes: Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento. Apesar de haver informações disponíveis sobre quem solicitou a remoção, quantas árvores foram retiradas e a quantidade que deveria ser replantada, não há números claros e acessíveis sobre onde essas mudas estão sendo colocadas.
Um exemplo claro dessa falta de clareza ocorreu em março, quando uma construtora foi autorizada a desmatar 1.880 árvores no bairro de Inhoaíba, na Zona Oeste. Como contrapartida, deveria plantar 5.676 mudas em outro local. No entanto, o especialista Roberto Bastos Rocha está preocupado com a transparência desse processo. “A paisagem do RJ é o maior ativo da cidade. Quando as medidas compensatórias não têm clareza, gera desconfiança,” afirma.
Aumento significativo no número de remoções
Nos últimos quatro anos, o número de árvores removidas no Rio de Janeiro viu um aumento dramático, subindo de 5.216 em 2021 para 13.130 no ano passado – um crescimento de 151%. Apenas neste ano de 2024, até o final de maio, já foram retiradas 4.258 árvores, das quais 21.908 deveriam ter sido replantadas. Contudo, a dificuldade em rastrear onde estão essas árvores replantadas continua sendo um desafio.
Iniciativas locais de replantio
Frente à ineficiência da gestão pública em lidar com o déficit de árvores, iniciativas locais estão surgindo. Um exemplo é o Movimento Olaria Verde, que promove o plantio voluntário de árvores em bairros carentes de arborização. Segundo o voluntário Daniel Gustavo Gomes, a proposta é mapear ruas inteiras e trabalhar com os moradores para que eles “apadrinhem” as mudas. Até o momento, o grupo já plantou cerca de 800 árvores.
A resposta da Secretaria de Desenvolvimento Urbano
Em resposta às preocupações levantadas, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Licenciamento afirmou que realiza acompanhamento das medidas compensatórias e prioriza o plantio de mudas nas proximidades das áreas afetadas. Apesar disso, não foram fornecidas informações sobre como a população pode acessar os dados de localização dos replantios, deixando a comunidade em um estado de incerteza e exigindo mais transparência.
O futuro das áreas verdes do Rio de Janeiro depende não apenas de políticas eficazes, mas também de um compromisso claro e transparente por parte da administração pública. O déficit de 800 mil árvores não é apenas um número, mas um sinal de alerta sobre a saúde ambiental e a qualidade de vida na cidade.
Com a pressão crescente sobre os recursos naturais da cidade, é essencial que haja um esforço conjunto entre a população e as autoridades para fortalecer as iniciativas de preservação e replantio. Esperamos que, em breve, as informações sobre a compensação ambiental e os esforços de replantio se tornem acessíveis e claras, permitindo uma gestão mais eficaz da biodiversidade urbana no Rio de Janeiro.