Empregadores estão cada vez mais recorrendo à inteligência artificial para conduzir entrevistas de emprego, utilizando vozes sintéticas que simulam chamadas ao vivo. Essa inovação visa acelerar processos seletivos e ampliar o acesso a candidatos, especialmente em setores com alta demanda e horários variados.
Entrevistas com IA ganham espaço no mercado de trabalho
Startups como Apriora, HeyMilo AI e Ribbon afirmam que seus softwares de entrevista por vídeo com IA estão sendo adotados rapidamente. Os candidatos interagem com um “recrutador” virtual, que faz perguntas de acompanhamento, avalia habilidades e oferece feedback estruturado para os gerentes de contratação.
Segundo Arsham Ghahramani, CEO da Ribbon, há um ano essa tecnologia parecia algo futurista, mas agora ela já se tornou bastante comum. “A adoção evoluiu rapidamente, e muitas empresas veem esse método como uma forma eficiente de gestionar grandes volumes de candidatos”, afirmou Ghahramani, que recentemente liderou uma rodada de financiamento de US$ 8,2 milhões.
Vantagens e desafios da contratação com IA
Empregadores valorizam a economia de tempo, principalmente em processos de recrutamento em larga escala. Já os candidatos, especialmente em setores com horários flexíveis, apreciam a possibilidade de realizar entrevistas em horários diferentes, mesmo que a maior parte deles ainda se sinta desconfortável com avaliações por algoritmos, segundo pesquisa da Consumer Reports.
Na Propel Impact, organização de investimentos de impacto social no Canadá, a mudança para entrevistas por IA foi motivada pela alta demanda de contratação de mais de 300 bolsistas ao longo do ano. Como explica Cheralyn Chok, cofundadora da Propel, a tecnologia permite escalar o processo de seleção, que antes se baseava em candidaturas escritas e entrevistas presenciais feitas por ex-participantes.
Desafios técnicos e preocupações éticas
Apesar do crescimento, a tecnologia ainda enfrenta obstáculos. Alguns vídeos no TikTok mostram bots de entrevista repetindo frases ou interpretando respostas simples de forma incorreta, o que gerou críticas. Por exemplo, um vídeo viralizou com um bot dizendo repetidamente “barra vertical pilates”.
Ghahramani reconhece que erros ocorrem, mas ressalta que sua taxa é muito baixa. “Não vamos acertar 100% das vezes, mas temos sistemas para capturar incidentes”, afirmou. A Ribbon dispõe de um protocolo de suporte, com alertas automáticos e notificações ao CEO, para garantir maior segurança no processo.
A importância da transparência e o futuro das entrevistas
Candidatos são informados previamente de que conversarão com uma IA, como forma de preparar o usuário e diminuir o impacto de uma experiência que pode parecer impessoal. A Propel Impact também fornece sessões informativas conduzidas por humanos, buscando manter uma conexão mais próxima.
Apesar do avanço, reguladores já começaram a atuar. Illinois exige que empresas divulguem o uso de IA na análise de vídeos de entrevistas e obtenham consentimento dos candidatos, enquanto Nova York recomenda auditorias anuais de viés em ferramentas automatizadas.
Novas aplicações e o que esperar
Embora o uso principal seja para triagens iniciais, a Ribbon relata que 15% das entrevistas agora ocorrem além dessa fase, incluindo discussões adicionais sobre expectativas salariais ou avaliações técnicas. Mesmo com a maior automação, muitas empresas reforçam que a IA deve apenas coletar dados, sem tomar decisões finais de contratação, reforçando a necessidade de supervisão humana.
Segundo Braden Dennis, CEO da FinChat, a IA às vezes apresenta dificuldades ao responder perguntas de acompanhamento, como a respeito de empregos específicos. Contudo, ele acredita que esses incidentes são raros e que a tecnologia evolui rapidamente, com suporte constante para evitar problemas mais graves.
Preparando candidatos em um mercado em transformação
Candidatos são informados previamente sobre sua interação com IA, e empresas investem em suporte humano para garantir transparência. Para Dennis, se a tecnologia ajudar a ampliar oportunidades mesmo que o processo pareça impessoal, o esforço vale a pena.
Apesar dos avanços, há preocupações éticas e regulatórias. Países como Estados Unidos começam a exigir maior transparência e auditoria em ferramentas de seleção automatizada, para prevenir preconceitos e assegurar justiça nos processos.
Segundo especialistas, a automação das entrevistas deve crescer, mas o envolvimento humano continua essencial para garantir um procedimento justo e confiável.
Para mais detalhes, acesse a matéria completa no Globo.
