O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou estar disposto a assinar o acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul ainda neste ano, condicionando a assinatura à inclusão de medidas que protejam o setor agropecuário europeu contra a concorrência sul-americana.
Proteção do setor agrícola europeu na pauta de Macron
Durante entrevista à GloboNews na última quinta-feira, Macron explicou que, para assinar o acordo, a UE exige que o Mercosul cumpra normas mais rígidas de uso de defensivos agrícolas, além de cláusulas de salvaguarda para setores específicos, sobretudo o agro.
Ele propôs a inclusão de um protocolo ao tratado, que possa ativar uma cláusula de salvaguarda caso o mercado seja desregulado de forma abrupta, protegendo assim os interesses dos agricultores europeus frente à maior competitividade dos produtos sul-americanos.
Desafios e negociações em curso
Macron destacou que deseja convencer os líderes do Mercosul a adotarem as mesmas normas rigorosas da Europa, especialmente em relação ao uso de defensivos, considerados uma preocupação para a agricultura do continente europeu. Para isso, sugeriu que as negociações avancem com um protocolo que equilibre interesses comerciais e proteção ambiental.
Além disso, Macron mencionou que o acordo, se ratificado, facilitaria as exportações europeias de automóveis, máquinas e produtos farmacêuticos, enquanto o Mercosul poderia ampliar suas vendas de carne, açúcar, mel e outros produtos para a Europa.
Contexto político e pressões internacionais
As declarações de Macron ocorrem num momento de tensão na União Europeia, onde países como Hungria e Áustria se posicionaram contra o tratado, considerando-o desequilibrado. Bruxelas ainda estuda os métodos de ratificação do acordo, enquanto há crescentes pressões para sua aprovação, principalmente em razão das tarifas impostas pelos Estados Unidos ao comércio internacional.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que o acordo com o Mercosul deve ser ratificado rapidamente para aliviar os efeitos das tarifas americanas, reforçando o interesse europeu em garantir espaço no mercado global de alimentos e produtos industriais.
Reações internas na França e na UE
Por outro lado, organizações agrícolas francesas têm pressionado Macron a se posicionar contrariamente ao tratado, por preocupações com a competição desleal e possíveis riscos ambientais. Ainda assim, Macron afirmou que o acordo pode trazer benefícios para muitos setores econômicos, mesmo diante dos riscos para a agricultura europeia.
Dentro da própria UE, há uma discussão intensa sobre os critérios de ratificação, com alguns países buscando se opor ao pacto, enquanto outros defendem sua importância estratégica para a economia do bloco frente às tarifas de Trump e a ameaças ao comércio global.
Perspectivas futuras
Macron sinalizou que, se os líderes do Mercosul concordarem com as condições de proteção e normas ambientais, a assinatura do acordo poderá acontecer ainda neste ano. Segundo ele, a França pretende convencer seus parceiros europeus a fortalecerem esse compromisso, visando concluir as negociações durante a presidência brasileira do Mercosul, prevista para o segundo semestre de 2025.