Mesmo diante de obstáculos regulatórios e falta de incentivos governamentais, empresas brasileiras vêm prosperando ao implementar práticas de economia circular, aponta pesquisa publicada no Journal of Environmental Management. O estudo revela como capacidades internas, como inovação e gestão estratégica, impulsionam essa transição, que já é adotada por mais de 76% das indústrias no país.
O impacto da economia circular nas empresas brasileiras
A economia circular desafia o modelo tradicional de “extrair, produzir, consumir e descartar”. Em vez disso, busca criar um sistema regenerativo, onde materiais e recursos permanecem em uso por mais tempo, reduzindo desperdícios e promovendo sustentabilidade.
Práticas clássicas de economia circular
Entre as ações adotadas por empresas, destacam-se o ecodesign, logística reversa e sistemas de produto-serviço. Exemplos incluem a Whirlpool, que oferece máquinas de lavar por assinatura, e a brasileira Boomeira, que transforma embalagens plásticas em novos produtos, contribuindo para a reciclagem de resíduos de difícil manejo.
Desafios e estratégias para o futuro
Apesar do avanço, a pesquisa aponta que obstáculos como burocracia, legislações restritivas e a ausência de incentivos fiscais dificultam a expansão das práticas circulares. Ainda assim, as empresas brasileiras demonstram resiliência ao adotá-las como estratégia de diferenciação de mercado e transformação ambiental.
Resiliência e inovação mesmo sem apoio governamental
O estudo destaca que a falta de uma política nacional estruturada não impede o crescimento dessas ações. Atualmente, o governo iniciou a criação do Fórum Nacional de Economia Circular, alinhado à implementação da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC). Contudo, as empresas que cultivam capacidades de inovação e parcerias continuam liderando a mudança, com ganhos como maior eficiência operacional, redução de custos e maior resistência a crises.
Recomendações para ampliação da adoção
Para potencializar essa evolução, os autores sugerem a criação de incentivos fiscais, revisão de legislações que dificultam a remanufatura e reciclagem, além de estimular a cooperação entre setor público, universidades e empresas. A adoção de normas técnicas, como as normas ABNT NBR ISO 59004, 59010 e 59020, também oferece suporte às organizações na implementação de práticas circulares.
Economia circular como estratégia de longo prazo
Segundo dados da consultoria Accenture, a economia circular pode gerar até US$ 4,5 trilhões até 2030, refletindo seu potencial econômico e ambiental. Para os especialistas, mesmo em um ambiente regulatório ainda em formação, as empresas brasileiras que investem em inovação, parcerias e modelos sustentáveis estarão mais preparadas para o futuro.
Embora o cenário adote pouca regulamentação, a iniciativa privada está se destacando ao integrar práticas circulares em sua estratégia de negócio. Assim, a transição para uma economia mais sustentável depende de uma combinação de vontade política, incentivos e colaboração de todos os setores da sociedade brasileira.
Bruno Seles – Coordenador dos cursos de graduação em Administração e Ciências Contábeis da Unimar Business School, Universidade de Marília (Unimar). Este texto foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.
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