A preços mais baixos das matérias-primas brutas, como milho, soja, trigo, café, cana-de-açúcar, carne bovina, aves e suínos vivos, a inflação começa a ceder no setor produtivo. Em maio, o recuo foi de 2,86%, tendência que contribuiu para a queda de 1,38% no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), divulgado nesta sexta-feira pelo FGV Ibre. Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), revelou desaceleração, com alta de 0,34%, ante 0,52% em abril, sinalizando que os efeitos da redução nos custos ainda estão em processo de transmissão às prateleiras do mercado.
Impacto da baixa nas matérias-primas na inflação
Segundo o economista André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, a queda de preços concentra-se nas matérias-primas no início da cadeia produtiva, ou seja, aqueles itens utilizados na transformação em produtos destinados ao consumo das famílias ainda apresentam efeitos de redução mais distantes do impacto final. “A mudança de preços não é repassada imediatamente ao consumidor, já que o IPA ainda registra taxas positivas em 12 meses”, explica Braz.
Ele alerta que, apesar da queda recente, a inflação não apresentou grande alívio para o consumidor, dado o aumento acumulado ao longo de 12 meses. “No momento, o IPCA aponta alta de 0,34%, com pressão de preços administrados, como energia elétrica, que subiram devido à bandeira vermelha anunciada em junho. Assim, as batalhas de preços ainda estão em curso, o que mantém a inflação no radar do mercado”, acrescenta Braz.
Desaceleração no índice de preços ao consumidor e cenário futuro
Os dados do IGP-DI, que mede a variação de preços na origem, também apontam para tendência de queda. O índice caiu 0,85% em maio, após alta de 0,30% em abril, consolidando uma tendência de abrandamento da inflação, embora ainda com variações positivas ao longo do último ano.
Especialistas avaliam que a desaceleração na cadeia de preços é um sinal positivo, mas alertam para os desafios de transmitir essa redução ao consumidor final rapidamente. A expectativa é que a deflação das matérias-primas contribua, a médio prazo, para uma menor pressão inflacionária, mas o contexto de preços administrados e de alta na energia elétrica ainda poderá limitar o alívio imediato na prática.
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Cenário de inflação e expectativas para junho
Braz destaca que, apesar da tendência de desaceleração, junho deve continuar observando pressões inflacionárias, principalmente por conta da energia elétrica, e os preços de combustíveis, que embora tenham apresentado uma redução na gasolina, ainda enfrentam desafios de repasse aos consumidores. “Será uma disputa de forças entre os descontos de commodities e os custos de energia e tarifas”, afirma o economista.
Assim, a expectativa é de que os efeitos da redução nas matérias-primas e a desaceleração dos preços ao produtor possam levar a uma inflação mais controlada no segundo semestre, embora o cenário permaneça de cautela, dada a persistência de fatores de pressão e a complexidade do ambiente econômico.