No contexto de crescente conscientização sobre os abusos contra menores na Igreja, o cardeal Seán O’Malley falou à Rádio Vaticano sobre as iniciativas da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores. A entrevista, que abordou a importância de colocar as vítimas e suas famílias em primeiro lugar, revela os desafios e avanços nas políticas de proteção dentro da Igreja Católica.
Trabalho da Comissão e Evolução das Prioridades
O cardeal O’Malley, arcebispo emérito de Boston e um dos fundadores da Comissão, enfatizou que as prioridades da Igreja permanecem inalteradas: “Estamos tentando colocar as vítimas e suas famílias em primeiro lugar”. A transparência, responsabilidade e educação se destacam como elementos essenciais na abordagem dos abusos. De acordo com O’Malley, a Igreja deve ser uma expressão do amor e da misericórdia de Deus, com a proteção de crianças e jovens ocupando um lugar central em sua missão.
A Comissão, criada a pedido do Papa Francisco, evoluiu ao longo dos anos, envolvendo-se mais com a educação e o desenvolvimento de diretrizes para a proteção de menores. Com a recente implementação do relatório anual, que avalia os esforços da Igreja em todo o mundo, a Comissão também se dedicou a ajudar regiões onde questões de proteção estão apenas começando a ser discutidas. O cardeal mencionou o fundo criado para financiar os centros Memorare, comprometidos em treinar pessoas em países do Sul Global sobre como implementar políticas de proteção e acolher vítimas.
Transparência e Relatórios Anuais
O cardeal O’Malley revelou que o próximo relatório anual, previsto para publicação em outubro de 2024, abordará a “justiça de conversão”. Este documento fornecerá uma síntese dos encontros ad limina de 22 países e congregações religiosas, discutindo a tutela, estatísticas e políticas implementadas. “Nosso objetivo é continuar promovendo a transparência na Igreja”, afirmou O’Malley, ressaltando a importância de mostrar tanto as conquistas quanto os desafios enfrentados.
A transparência, segundo O’Malley, é fundamental para que a Igreja reconquiste a confiança da população. “As piores ações da Igreja no passado foram cobrir crimes, e agora trabalhamos com as autoridades civis para garantir responsabilidade e educação sobre o tema dentro da Igreja”, destacou.
Crescimento da Conscientização e Futuro
O cardeal também falou sobre o papel histórico dos Papas, incluindo Bento XVI e João Paulo II, na conscientização sobre o assunto. “As declarações dos pontífices foram cruciais, e a mídia teve um papel fundamental nesse processo”, disse O’Malley. No entanto, ele observou que a resposta da Igreja muitas vezes foi recebida com ceticismo por parte dos fiéis, citando frases como “é apenas uma questão de dinheiro” ou “são mentiras”.
O cardeal enfatizou que as intervenções papais em favor da transparência e do perdão ajudaram a mudar essa percepção, mas reconheceu que a luta contra abusos não se limita apenas à Igreja. “É um problema humano que também afeta instituições como escoteiros e escolas”, disse O’Malley, reforçando a gravidade do impacto do abuso e a traição de confiança que isso representa para a fé.
Ao encerrar a entrevista, O’Malley expressou sua gratidão por ter trabalhado na Comissão e pelo apoio contínuo do Papa Francisco. Ele enfatizou a importância do trabalho futuro e a necessidade de continuar desenvolvendo uma cultura de proteção dentro da Igreja.
O compromisso da Igreja, como ressaltado pelo cardeal, é claro: “Estamos aqui para garantir que as vítimas e suas famílias sejam sempre a prioridade”. Com esforços contínuos, a Comissão e os líderes da Igreja buscam garantir um ambiente mais seguro e responsável para todos.