Quando se fala no desempenho de um atleta, a produtividade nos treinos é frequentemente destacada como um fator crucial para o sucesso. No entanto, um elemento tão vital quanto o treinamento é o sono. Especialistas afirmam que a qualidade do descanso está intrinsecamente ligada ao desempenho atlético, especialmente para jovens em fase de crescimento e desenvolvimento.
O sono como aliado na performance esportiva
Estudos demonstram que o sono desempenha um papel essencial em diversos processos fisiológicos, muitos dos quais são ainda mais críticos para crianças e adolescentes que praticam esportes. De acordo com o pediatra e médico do esporte, Ricardo do Rego Barros, o sono auxilia na recuperação muscular e na síntese de proteínas, fundamentais para prevenir e reparar lesões. “A privação de sono leva a um aumento dos níveis de cortisol, o que contribui para a degradação muscular e pode causar fadiga e queda no desempenho”, explica Barros.
Além disso, o neurologista e especialista em medicina do sono Lucio Huebra destaca que é durante o sono que ocorre a maior parte da liberação do hormônio do crescimento (GH), essencial para jovens atletas. Em especial, essa liberação ocorre no sono profundo, que é vital durante a adolescência, uma fase de grande consumo energético e crescimento acelerado.
Desenvolvimento do sistema nervoso e saúde mental
A neurologista Rosana Cardoso acrescenta que a fase da adolescência é marcada pelo desenvolvimento intenso do sistema nervoso central, tornando o sono ainda mais importante. “Estudos indicam que o sistema linfático, responsável pela eliminação de resíduos do cérebro, é ativado de forma mais intensa durante o sono, o que é fundamental para a disposição de neurotransmissores”, afirma. Essa eliminação é crucial para a saúde mental, que, por sua vez, influencia a capacidade de atenção e concentração dos atletas.
Dicas para garantir uma boa noite de sono
Para garantir uma boa qualidade de sono, Huebra recomenda que os adolescentes, em média, precisam de 9 a 10 horas de descanso, e para atletas, essa necessidade pode ser ainda maior. “A privação do sono tem impactos documentados, como redução da performance, diminuição da força muscular, resistência e afetar as habilidades cognitivas”, alerta.
Se os jovens encontrarem dificuldade para dormir, é importante considerar que praticar esportes de alta intensidade à noite pode ter efeitos negativos no sono. “Atividades físicas liberam hormônios que podem inibir o sono. Além disso, dores ou desconfortos pós-atividade podem afetar o descanso”, explica Huebra. Por isso, o ideal é que os treinos sejam realizados durante o dia, se possível.
A criação de uma rotina regular de sono, com horários fixos para dormir e acordar, é uma recomendação que pode contribuir significativamente. O neurologista sugere como estratégia um diário de sono, onde o jovem atleta pode registrar seus horários de sono por um período de 10 a 15 dias. A partir disso, é possível traçar uma média e estabelecer horários mais adequados.
Ambiente propício para o descanso
Barros, da Soperj, também ressalta a importância de um ambiente adequado para o sono. “Escurecer o quarto, mantê-lo silencioso e evitar dispositivos eletrônicos uma hora antes de dormir são medidas simples, mas eficientes”, recomenda.
Ele alerta para o uso excessivo de dispositivos móveis, que impactam negativamente a qualidade do sono, especialmente entre adolescentes. “O celular pode ser um grande vilão, pois muitos acabam perdendo horas de descanso que são cruciais para a função cognitiva e a concentração durante as atividades físicas”, finaliza Barros.
Em suma, o sono é um componente fundamental na trajetória de um jovem atleta. Com a devida atenção voltada para a qualidade do descanso, os jovens podem não apenas melhorar seu desempenho esportivo, mas também sua saúde geral e bem-estar. Portanto, é essencial encarar o sono não como uma despesa de tempo, mas como um investimento na performance e na qualidade de vida.