Durante o voo para o Rio de Janeiro nesta segunda-feira, o cientista político canadense respondeu a perguntas do blog sobre os efeitos das tensões geopolíticas na cooperação internacional para o enfrentamento da crise climática. Sua palestra no II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza abordará os riscos globais e o impacto da geopolítica na ação climática e no financiamento ambiental.
Como as tensões atuais afetam a cooperação internacional na crise climática
O especialista afirma que a intensificação das rivalidades entre potências, especialmente Estados Unidos e China, prejudica os esforços globais de combate às mudanças climáticas. “As restrições comerciais a tecnologias estratégicas e minerais essenciais para a transição energética aumentam as dificuldades de alcançar um consenso internacional”, explica. Além disso, conflitos como a guerra na Ucrânia e em Gaza desviam recursos e atenção de iniciativas climáticas, enquanto alguns países reativam usinas a carvão devido à volatilidade no mercado de energia.
Impacto das mudanças políticas internas e a resposta do setor privado
Segundo Muggah, retrocessos em compromissos climáticos por parte de países como os Estados Unidos incentivam o ceticismo global e levam ao enfraquecimento de metas de emissão de gases de efeito estufa. “Quando governos reduzem esforços, o setor privado também recua, fortalecendo uma tendência de postergar ações urgentes”, pontua. Além disso, bancos e empresas têm reavaliado suas promessas de redução de emissões devido à pressão política e de acionistas.
Respostas pontuais e avanços na crise climática diante da instabilidade
Apesar do cenário desafiador, a crise geopolítica tem impulsionado investimentos em energia limpa na Europa, como a expansão de energia solar, eólica e hidrogênio. A China, diante de restrições comerciais, ampliou sua produção de tecnologias verdes, enquanto países como o Brasil usam rivalidades globais para buscar melhores condições de financiamento ambiental.
Conflitos por recursos naturais e reconfiguração das alianças globais
A disputa por minerais críticos, essenciais à transição energética, tem gerado uma nova diplomacia fragmentada, sem uma Guerra Fria tradicional, mas com alianças baseadas em recursos. Estados Unidos, China e potências médias como o Brasil estão firmando acordos que reforçam a dependência de cadeias de suprimento em minerais como lítio, cobalto e terras raras, criando riscos de conflitos que podem afetar a segurança global.
Financiamento climático e desafios na alocação de recursos
A mobilização de recursos para a mitigação e adaptação ao clima enfrenta obstáculos devido às tensões geopolíticas e ao aumento do endividamento em países vulneráveis. Apesar de compromissos históricos como a promessa de US$ 100 bilhões anuais, há um descompasso entre a demanda e a oferta real de financiamento, agravado pela reeleição de governos com agendas voltadas ao carvão e combustíveis fósseis.
Inovação tecnológica e soluções sociais na luta climática
Inovações como microgrids solares, hidrogênio verde e ferramentas de fintech climática estão transformando a resiliência ambiental. Soluções baseadas na natureza, que envolvem restauração de florestas e agricultura regenerativa, oferecem baixa custos e múltiplos benefícios, especialmente para o Brasil, que detém um enorme potencial solar e eólico. Cidades como Cingapura, Rotterdam e Medellín apresentam exemplos de adaptação bem-sucedida.
O papel do setor privado e a importância de uma governança robusta
Incentivar investimentos privados em ações climáticas requer ambientes regulatórios previsíveis, incentivos fiscais e mecanismos de mitigação de riscos, como financiamento misto e títulos verdes. Além disso, mudanças na cultura corporativa, com maior foco em critérios ESG, são essenciais para acelerar a transição energética, especialmente diante do aumento do risco reputacional e de cadeia de suprimentos.
Adaptação urbana e combate à desinformação
Cidades como o Rio de Janeiro enfrentam desafios por eventos climáticos extremos, exigindo estratégias de longo prazo, como reflorestamento, infraestrutura sustentável e urbanismo ecológico. Além disso, a desinformação representa um obstáculo relevante, uma vez que mitos e fake news desaceleram políticas de redução de emissões e fortalecem o negacionismo climático.
O papel da América Latina e do Brasil na liderança global
A região possui ativos naturais estratégicos, como a Amazônia, que podem posicionar o Brasil como líder na transição sustentável. Países menores como Chile e Uruguai mostram que a inovação verde pode vir de diversas escalas, enquanto a preservação da floresta amazônica é crucial para a estabilidade climática global. A presidência brasileira da COP30 será uma oportunidade de fortalecimento diplomático e implementação de compromissos ambientais.
Perspectivas futuras e esperança cautelosa
Apesar do cenário preocupante, o especialista avalia que há motivos para otimismo moderado. Tecnologias limpas estão se tornando economicamente viáveis, e a pressão social tem promovido avanços políticos. “A janela de oportunidade ainda está aberta, mas o tempo é curto”, conclui. As decisões desta década irão definir o clima para as próximas gerações, tornando fundamental a cooperação e a coragem política.
Fonte: O Globo
tags: meio ambiente, diplomacia climática, financiamento verde, inovação tecnológica, resiliência urbana