O aumento do Imposto de Operações Financeiras (IOF) anunciado pelo Ministério da Fazenda na última quinta-feira teve uma recepção negativa significativa por parte da população brasileira. Um levantamento realizado pela consultoria Bites, a pedido do jornal O Globo, revelou que mais de 70% das menções sobre o assunto nas redes sociais foram desfavoráveis. Este cenário reflete uma interpretação ampla de que a medida implica um aumento na taxação de investimentos realizados por brasileiros no exterior.
Reações negativas nas redes sociais
Desde o anúncio, realizado na quinta-feira, o tema foi mencionado 144 mil vezes, com 78,2 mil postagens apenas na sexta-feira. A pesquisa apontou que 72,6% dessas menções contavam com um tom negativo, enquanto as positivas atingiram apenas 15%. Segundo André Eler, diretor adjunto da Bites, a falta de defesa da medida por figuras políticas, até mesmo do PT, evidencia a fragilidade da gestão governamental na comunicação de suas estratégias econômicas.
Eler observa que o governo enfrenta um desafio considerável ao tentar justificar a imposição de novos tributos, alimentando as percepções já existentes na população de que a administração do presidente Lula é caracterizada por uma política de aumento de impostos. Ele menciona, ainda, que a iniciativa atual impulsionou o retorno do meme “Taxad” entre os críticos, referindo-se a comparações anteriores com a taxa sobre pequenas importações, que foram mal recebidas na esfera pública.
Críticas de parlamentares e do ex-presidente
O levantamento também identificou que apenas um dos 16 parlamentares que comentaram a situação se posicionou a favor do governo: o deputado Bohn Gass (PT). Por outro lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez questão de ressaltar em uma postagem no X (anteriormente Twitter) que, em março de 2022, ele havia emitido um decreto que zerava a alíquota do IOF ligada ao câmbio até 2028. Ele criticou o governo pela decisão de reverter essa política, que, segundo ele, desestimula investimentos no país.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também se manifestou, chamando a medida de “efeito direto do caos fiscal e da agenda econômica bizarra da extrema-esquerda”. Além dele, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) descreveu o aumento do IOF como “uma cortina de fumaça”, enquanto o senador Sérgio Moro (União-PR) criticou a falta de responsabilidade na gestão atual.
Recuo do governo e reflexões sobre a comunicação
Em resposta à forte reação negativa, o governo anunciou a derrubada de parte da resolução do aumento do IOF poucas horas após o anúncio. A medida que permanece em vigor mantém a alíquota do imposto vinculada a investimentos de fundos nacionais no exterior em zero, permitindo ao governo tentar apaziguar os ânimos de uma população insatisfeita com a possibilidade de maiores tributos.
Esse recuo não é anômalo na gestão Lula. Em uma situação semelhante, o governo se viu forçado a revogar uma medida que ampliava a fiscalização sobre movimentações financeiras via Pix, por conta das suspeitas e boatos que surgiram a respeito de taxações que poderiam advir dessa política. O novo padrão de comunicação e a gestão da percepção pública se tornaram, portanto, um desafio ainda maior para o governo, visto que soluções paliativas muitas vezes não bastam para assegurar a confiança do eleitorato.
Análise da percepção pública e do clima econômico
Comparando o volume de postagens sobre o aumento do IOF com outros temas tributários do governo, podemos notar que a discussão acendeu inquietações similares às que se manifestaram quando questões como a isenção de impostos sobre alimentos e a isenção de até R$ 5 mil do Imposto de Renda foram colocadas em pauta. O tema econômico continua a dominar as conversas nas redes e, a exemplo do que ocorreu com o Pix, ao abordar a possibilidade de aumentos de tributos, a administração encontra resistência e crítica generalizada.
A capacidade do governo de comunicar suas ações e justificar suas decisões financeiras será crucial para evitar uma crise de confiança nas políticas públicas que possa afetar ainda mais o clima econômico do Brasil. A fragilidade da situação é visível, e a necessidade de um diálogo mais transparente e efetivo é mais urgente do que nunca. Com as reformas necessárias em andamento, a administração terá que trabalhar arduamente para transformar descontentamento público em apoio popular para suas políticas de arrecadação e investimento.