O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta sexta-feira (23/5) que nunca teve “muita simpatia” pelas mudanças planejadas no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), tributo que incide sobre operações de crédito, câmbio e seguro. As propostas do Ministério da Fazenda, anunciadas na véspera, provocaram forte repercussão no mercado financeiro, levando o governo a revogar parcialmente tais medidas em poucas horas.
Recuo do governo após reação do mercado
As mudanças, divulgadas pelo ministro Fernando Haddad na noite de quinta-feira, incluíam alterações na alíquota do IOF sobre remessas internacionais e aplicações de fundos no exterior. No dia seguinte, antes mesmo da abertura do mercado, Haddad detalhou o recuo do governo, que retirou o peso das mudanças na prática. Segundo Galípolo, as decisões foram influenciadas pela forte reação negativa dos agentes econômicos.
Visão pessoal e influência nas decisões
Durante o XI Seminário Anual de Política Monetária, organizado pelo Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), no Rio de Janeiro, Galípolo explicou sua posição sobre o tema. “Em debates anteriores, há um tempo atrás, em qualquer momento em que se discutia a alternativa do IOF como alternativa para a persecução da meta, eu, pessoalmente — para usar um eufemismo — nunca tive muita simpatia sobre a ideia, para não dizer que eu não gostava da ideia”, afirmou.
Contudo, ele destacou que suas opiniões pessoais não têm força determinante nas decisões de política fiscal do governo. “Não implica nenhum tipo de ingerência ou reflexo sobre o que a Fazenda deve fazer”, reforçou.
Reconhecimento e diálogo com o governo
Galípolo elogiou o ministro Fernando Haddad pela clareza ao explicar os ajustes nas propostas e ressaltou que o objetivo do Ministério da Fazenda foi manter o cumprimento da meta fiscal de déficit zero em 2025. “Foi uma postura honesta e transparente”, comentou.
Reuniões e influência no processo decisório
Conforme apurado pelo Metrópoles na coluna de Igor Gadelha, o presidente do BC se reuniu com o ministro Rui Costa no Palácio do Planalto antes do anúncio oficial do recuo. Galípolo participou de forma virtual, justificando que avaliou ser “pouco adequado” deslocar-se presencialmente devido à sua agenda.
Recuperação parcial das medidas
O primeiro ponto do recuo envolve o IOF sobre aplicações de fundos no exterior. Originalmente, essa alíquota era zero, passou a ser de 3,5% com as mudanças preliminares e voltou ao status anterior após o recuo. Já a cobrança do IOF sobre remessas ao exterior por pessoas físicas continuará em 1,1%, sem alterações, conforme esclareceu a Fazenda.
Segundo a pasta, as correções ocorreram para equilibrar os interesses do governo na busca pela meta fiscal e a estabilidade do mercado, “ouvindo o país e ajustando os rumos sempre que necessário”, declarou a Fazenda em nota publicada na rede social X.
Perspectivas e próximos passos
Apesar do recuo, o governo sinalizou que continuará atuando na busca pela estabilidade fiscal, com o objetivo de alcançar o déficit zero em 2025. O ministro Fernando Haddad afirmou que novas discussões podem ocorrer no futuro, sempre visando o equilíbrio macroeconômico.
As opiniões do presidente do BC reforçam a importância do diálogo entre as instituições e os diferentes setores do governo para a formulação de medidas econômicas consistentes e sustentáveis.
Para acompanhar as mudanças na política fiscal e seus desdobramentos, os analistas recomendam atenção às próximas declarações do governo e ao ambiente de mercado financeiro.