Os laços entre Brasil e Estados Unidos parecem menos visíveis sob a administração atual, assim como já ocorreu durante o primeiro mandato de Donald Trump. Apesar da recente imposição de tarifas de 10% ao Brasil, especialistas afirmam que as maiores oportunidades de interação podem surgir no setor privado e na sociedade civil. A percepção é compartilhada por Anthony Pereira, diretor do Kimberly Green Latin American and Caribbean Center, na Universidade Internacional da Flórida, que enfatiza a importância desses dois atores na relação bilateral.
Oportunidades no setor privado
Pereira acredita que a sociedade civil e o setor privado são fundamentais para o estreitamento das relações Brasil-EUA, especialmente em tempos em que o governo americano não demonstra um grande interesse pela América Latina. Ele traça um paralelo entre o atual cenário e o Brexit, onde tanto britânicos quanto americanos perceberam que suas influências no mundo não são tão predominantes quanto no passado. Essa percepção poderia, de fato, abrir novas portas para o Brasil, especialmente considerando a falta de foco explícita da administração Trump em relação à região.
O especialista enfatiza que, mesmo com uma agenda marcada por questões negativas, como drogas e imigração, o Brasil tem potencial para estabelecer colaborações vantajosas ao se apresentar de forma discreta e pragmática. O país, segundo ele, poderia se destacar em segmentos econômicos específicos que atraem o interesse americano, como tecnologia, biocombustíveis e minerais raros.
A influência da sociedade civil
Além do setor privado, Pereira ressalta que a sociedade civil brasileira desempenha um papel crucial na relação com os EUA. Em sua análise, o fato de os governos muitas vezes não estabelecerem um diálogo produtivo não impede que cidadãos e organizações continuem a colaborar e compartilhar ideias.
Ele afirma que o relacionamento entre as duas nações, sob a perspectiva sociocultural, pode ser um terreno fértil para parcerias, independentemente da falta de atenção governamental. Essa interconexão é vital, especialmente em tempos de polarização política e crise democrática em várias partes do mundo. A sociedade civil pode agir como uma ponte, reforçando laços e promovendo a colaboração em projetos relevantes.
Entre EUA e China: oportunidades e desafios
Uma questão que permeia as discussões sobre a política externa do Brasil é a inevitável relação com a China, à medida que o país busca alternativas diante das sanções e tarifas dos EUA. Pereira acredita que o Brasil possui uma margem de manobra maior em comparação a outras nações, como o México, devido à sua posição geográfica e ao tamanho de sua economia. Mesmo que exista uma pressão comercial, as interações econômicas entre Brasil, China e EUA ainda são robustas e benéficas.
Contudo, ele também destaca a necessidade de o Brasil se afirmar como uma potência independente, evitando que sua imagem seja vista como um mero apêndice das influências dos poderes hegemônicos. Essa abordagem de um Brasil conciliador, mantendo um pé em cada barco, é louvada, mas traz consigo a responsabilidade de encontrar um equilíbrio que não comprometa a soberania nacional.
A perspectiva futura
O futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos, segundo Pereira, dependerá tanto das ações do governo quanto da iniciativa de setores não governamentais. O desinteresse do governo americano pode ser uma proteção contra sanções mais severas, permitindo ao Brasil navegar em um ambiente mais seguro, desde que se posicione de forma astuta e pragmática.
Ainda assim, o recrudescimento político e as ameaças a acordos comerciais serão sempre uma preocupação. O sucesso do Brasil residirá não apenas em como navegá-lo, mas também em como propor alternativas estratégicas que atraiam investimentos e colaborações sustentáveis do setor privado.
De acordo com Pereira, a busca por alternativas e diálogos frutíferos permanece a estratégia mais viável. O Brasil, com sua resiliência e diversidade econômica, pode se beneficiar pela capacidade de se adaptar e inovar, mesmo em um cenário global incerto.
Em última análise, a história das interações Brasil-EUA será escrita não apenas nas esferas políticas, mas também entre as pessoas que se conectam e colaborem ao longo do caminho. A realidade é que, mesmo diante de um governo que parece não priorizar América Latina, há um espaço significativo para o crescimento e a consolidação de parcerias. Este é um desafio, mas também uma oportunidade única que pode moldar o futuro das relações bilaterais.