Os planos de saúde coletivos no Brasil deverão sofrer reajustes de dois dígitos pelo quarto ano consecutivo, mas com um aumento esperado de 12,8% em 2024, que é um valor inferior aos 14,25% registrados ano passado. Esse cenário foi apresentado em uma análise do BTG Pactual, com base nos dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Entre os meses de dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, o aumento médio na cobrança dos planos coletivos foi significativo, mas ainda assim abaixo do patamar visto em anos anteriores.
Reajustes abaixo da média histórica
O reajuste de 12,8% representa um alívio para os consumidores quando comparado ao reajuste acumulado do ano passado, que fechou em 13,8%. Atualmente, o mercado de planos de saúde no Brasil contém cerca de 52 milhões de usuários, sendo que 83% deles são atendidos por contratos coletivos, especialmente aqueles contratados por empresas, como pequenas e médias empresas (PMEs).
Planos individuais versus coletivos
Diferentemente dos planos de saúde individuais, cuja correção de preços é regulada por tetos estabelecidos pela ANS, os planos coletivos têm reajustes que são definidos pelas próprias operadoras em negociação com as empresas contratantes. Os analistas Samuel Alves e Yan Cesquim destacam que a avaliação trimestral dos reajustes dos planos coletivos traz uma visão mais clara sobre o comportamento de preços no setor.
Estabilidade nos preços de saúde
O documento do BTG Pactual sugere que o setor de planos de saúde está alcançando um novo nível de estabilidade em relação aos reajustes. Alves e Cesquim afirmam que a desaceleração dos aumentos se deve a várias causas, incluindo a redução da sinistralidade — a proporção da receita das operadoras destinada ao pagamento das despesas médicas. A sinistralidade, que estava em 86,9% em 2021, caiu progressivamente, resultando em 80,7% em 2024.
Redução de sinistros e fraudes
Marcelo Borges, diretor executivo da consultoria Mercer Marsh Benefícios, informa que a queda nos custos está seguindo a tendência de redução de fraudes no setor. Em 2023, apenas 2,1% dos pedidos de reembolso eram relativos a exames simples, uma queda significativa em relação aos 12% em 2022. Este fator contribui para a expectativa de reajustes menores em 2024, embora ainda permaneçam em dois dígitos.
Medidas adotadas pelas operadoras
Vinicius Figueiredo, analista do Itaú BBA, sugere que as operadoras tomaram medidas impactantes, como restrição na liberação de reembolsos e redução da rede credenciada, que ajudaram a reduzir os aumentos nos preços. Figueiredo acredita que o setor pode alcançar uma média de reajustes em torno de 11% até o final do ano.
Perspectivas e desafios
Enquanto o cenário geral dos planos coletivos apresenta um otimismo cauteloso, alguns dados indicam que as principais operadoras estão implementando reajustes superiores à média do setor. Por exemplo, a SulAmérica teve um aumento de 16,5% e a Unimed Nacional de 16,9%. No entanto, o Bradesco Saúde está com uma alta de 14,8%. Esses números refletem uma dinâmica de negócios em que as operadoras estão tentando minimizar o impacto no bolso dos consumidores, mas ainda lidam com fatores como judicialização e a crescente incorporação de tecnologias que podem influenciar os custos de saúde.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) destaca que a projeção positiva de reajuste reflete os esforços de gestão das operadoras no combate a fraudes e em um uso mais racional dos recursos disponíveis. Contudo, o aumento de custos da saúde ainda é um desafio constante no cenário atual.
Procuradas, algumas operadoras não se manifestaram, mas algumas como a Hapvida, que tem apresentando queda nos reajustes em comparação aos seus concorrentes, afirmam que seu modelo de negócio verticalizado permite maior eficiência operacional.
Os consumidores precisam ficar atentos a essas variações e tendências, uma vez que as decisões sobre os planos de saúde impactam diretamente em seu orçamento familiar e na qualidade do atendimento recebido.