A recente decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma taxa de 25% sobre as importações de aço e alumínio, que começou a valer em março, gerou um clima de incerteza entre os executivos do setor metalúrgico brasileiro. Os líderes da indústria demonstram preocupação acerca das consequências dessa medida e já iniciaram conversas com o governo brasileiro para buscar uma flexibilização da tarifa imposta pela administração de Donald Trump.
Impactos da tarifa sobre a exportação brasileira
O presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, destaca que, embora a taxa de 25% esteja sendo aplicada igualmente a todos os países, a competitividade do Brasil pode ser afetada a curto prazo. “Vários países estão se movimentando para negociar novas taxas em Washington. Aqueles que conseguirem fazer acordos mais rápidos terão vantagens. Se formos lentos, perderemos espaço”, alerta Lopes.
Os Estados Unidos foram o principal destino para o aço brasileiro em 2024, recebendo 4,08 milhões de toneladas, o que corresponde a 42,6% de todas as exportações do país. Essa operação rendeu ao Brasil cerca de US$ 2,99 bilhões, representando 39,2% da receita total das exportações siderúrgicas. O aço semiacabado, que é um insumo utilizado na indústria do aço, foi o principal item exportado, gerando US$ 2,3 bilhões em receitas.
Alternativas diante da incerteza
De acordo com Lopes, o impacto da tarifa sobre o semiacabado pode não apenas prejudicar o Brasil, mas também reduzir a competitividade da própria indústria siderúrgica americana, que depende de 5,6 milhões de toneladas anuais desse produto. “Construir usinas para atender essa demanda nos EUA leva de três a quatro anos, mostrando que a dependência do aço brasileiro é significativa”, comenta.
Além disso, a balança comercial do aço entre os dois países demonstra que, em termos globais, os Estados Unidos são superavitários em relação ao Brasil. Em 2014, o país importou US$ 1,4 bilhão em carvão metalúrgico e US$ 3,9 bilhões em máquinas e equipamentos relacionados ao aço. “Se considerarmos toda a cadeia produtiva, os EUA têm mais a ganhar com os negócios com o Brasil”, afirma Lopes.
O pleito por cotas no comércio
Nos anos passados, o Brasil havia conseguido negociar uma cota rígida, ou ‘hard quota’, que permitia a exportação de 3,5 milhões de toneladas de semiacabado e 687 mil toneladas de laminados, isentas de tarifas até março deste ano. Agora, a indústria siderúrgica aponta para o retorno desse modelo de cota como uma solução viável frente à nova taxa imposta.
As negociações iniciais ocorreram em março em uma videoconferência entre o vice-presidente e ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço, Geraldo Alckmin, e representantes do comércio dos EUA. “Estamos apenas começando a esclarecer aspectos da política tarifária brasileira e os argumentos que temos”, explica Tatiana Prazeres, secretária de Comércio Exterior do MDIC. Ela ressalta que o processo será longo e complexo.
A indústria do alumínio no Brasil também se mobiliza em busca de uma solução semelhante, pedindo que a nova tarifa de 25% seja substituída por um sistema de cotas que isente volumes anuais de sobretaxa. Em 2024, os EUA representaram 16,8% das exportações brasileiras de produtos de alumínio, totalizando US$ 267 milhões. No entanto, essa cifra é inferior a 1% das importações totais americanas.
Monitoramento do desvio de comércio
Uma grande preocupação do setor é que as novas tarifas poderiam provocar um desvio de comércio, resultando em práticas anticompetitivas, como o dumping. Prazeres informa que o MDIC está vigilante nesse aspecto e monitorará de perto os produtos afetados para tomar as medidas necessárias. “Os EUA são um parceiro vital e, ao insistirmos que o Brasil não representa um problema, estamos construindo um argumento forte”, conclui Prazeres.
Diante de um cenário de incertezas, a indústria brasileira busca estratégias para mitigar os impactos das tarifas e reafirmar a importância de suas exportações na cadeia produtiva americana. O futuro das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos permanece indefinido, mas a determinação do setor metalúrgico é evidente, à medida que se preparam para enfrentar os desafios impostos por essa nova realidade.