O Brasil começa o ano com bons sinais da economia. O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por um crescimento significativo do Produto Interno Bruto (PIB), com estimativas que indicam um aumento de 1,3% a 1,8% em relação ao último tri do ano anterior. Esses dados, amplamente positivos, parecem contradizer a expectativa de que os juros elevados estariam desacelerando a economia.
Projeções otimistas para o PIB
O Banco Central divulgou estimativas que apontam para um crescimento de 1,3%, enquanto o Monitor da FGV prevê um avanço de 1,6% para o primeiro trimestre. Contudo, as projeções de alguns bancos, como o Bradesco, indicam um número ainda mais otimista, sugerindo um crescimento de 1,8%. Segundo analistas, o aumento se deve principalmente ao setor agropecuário, que está colhendo uma supersafra, além da contribuição do consumo das famílias.
O Bradesco destaca que, embora o crescimento do PIB seja robusto, ele deve ser analisado com cautela. O banco ressalta que o aumento no setor agropecuário será responsável por grande parte desse resultado inicial, mas que, nos trimestres seguintes, uma desaceleração no consumo deve ser observada. “Estamos vendo um trimestre forte, mas o cenário pode mudar”, afirmou Roberto Padovani, economista-chefe do BV.
Aumento nas projeções e desafios futuros
O governo também elevou sua projeção do PIB para 2025 para 2,4%, prevendo uma inflação de 5%, que está acima do teto da meta estabelecida. Essa revisão se deve ao desempenho positivo da agropecuária, que ainda deve impactar positivamente os números econômicos no início do ano. Porém, há consenso entre analistas e economistas de que a desaceleração é quase inevitável, tendo em vista o impacto que o aumento das taxas de juros está gerando.
José Roberto Mendonça de Barros, economista, destaca que a renda das famílias está crescendo em termos reais, tanto pelo aumento de empregos quanto por transferências governamentais, o que está atenuando o impacto das altas taxas de juros. “O Brasil tem um desemprego muito baixo e programas sociais elevados, o que está ajudando a manter o consumo”, comentou.
Desafios econômicos e a alta de juros
Entretanto, o cenário pode mudar. A economista Juliana Trece, coordenadora do Monitor do PIB da FGV, alerta que a agricultura liderou o crescimento, especialmente com a soja, mas que o crescimento foi ocorrido em diversos setores. O consumo das famílias, investimentos e exportações também se destacaram. Mas, para os próximos trimestres, a previsão é de desaceleração.
O Brasil tem enfrentado um aumento significativo nas taxas de juros, que subiram de 10,5% para 14,75% em um intervalo de seis reuniões do Banco Central. Este choque nos juros começará a se refletir na economia de maneira mais intensa, primeiro nas empresas que se endividaram no passado e, em seguida, nas famílias. É importante entender que o aumento da Selic afetará as companhias que têm dívidas atreladas a ela, já que muitas delas se alavancaram para viabilizar projetos.
Conforme o ritmo de crescimento se intensifica, a altura dos juros provavelmente começará a pesar mais sobre o mercado de crédito. As consequências podem ser sentidas no momento da rolagem das dívidas, sendo que a política monetária atual tende a embutir efeitos de pelo menos três meses para se manifestar totalmente na economia.
Expectativas para o futuro
Em suma, os dados econômicos do primeiro trimestre de 2025 apresentam uma imagem que, à primeira vista, traz esperança para o cenário econômico brasileiro. Contudo, é crucial se atentar para os fatores que levarão à desaceleração econômica nos próximos meses. A expectativa de um PIB robusto pode ser ofuscada por questões internas, como a alta de juros e a diminuição da atividade econômica. O dia 30 de abril será crucial, quando o IBGE divulgará os números oficiais do PIB, que poderão esclarecer melhor as tendências para o restante do ano.
A indagação que fica é até quando o crescimento irá persistir e como as famílias e empresas irão se preparar para o impacto das altas taxas de juros. O futuro econômico depende da capacidade de adaptação do setor produtivo, capaz de navegar estes desafios e encontrar novas oportunidades em um cenário que promete ser desafiador.