Na sociedade contemporânea, o capacitismo, que se refere à discriminação contra pessoas com deficiência, se revela uma barreira invisível e insidiosa que compromete a verdadeira inclusão. Especialistas da Unicamp e educadores destacam que esse preconceito, muitas vezes inconsciente, impede a construção de um ambiente educacional e social mais justo e igualitário. A falta de familiaridade com as diferentes deficiências e o medo de errar na interação são fatores que perpetuam esse ciclo. Para Guilherme Bara, consultor e palestrante, o verdadeiro problema não é cometer erros, mas a resistência a aprender com eles.
Compreendendo o capacitismo
O capacitismo é o termo usado para descrever a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência, atribuindo-lhes uma posição de inferioridade em relação aos considerados “normais”. O professor Régis Henrique dos Reis Silva explica que, ao longo da modernidade, uma ideologia de produtividade emergiu, classificando pessoas como mais ou menos capazes. “Essa visão reduz os deficientes a um status de incapacidade, dando origem a estigmas que afetam profundamente a inclusão”, afirma.
Esse preconceito se manifesta em atitudes cotidianas, que muitas vezes passam despercebidas. A resultância disso é um ambiente que não acolhe, mas que exclui, dificultando a convivência e a troca de experiências entre pessoas com e sem deficiência. Guilherme Bara ressalta que o medo de errar muitas vezes leva à ignorância e ao distanciamento: “As pessoas se afastam por acreditarem que uma interação errada causará desconforto. No entanto, o erro faz parte do aprendizado”, argumenta.
A importância da educação inclusiva
A inclusão vai além de adaptações físicas como rampas e sinalizações. Para que uma escola seja verdadeiramente acessível, é necessária uma mudança de mentalidade. A especialista Andreia dos Santos de Jesus, presente no 4º Fórum Diálogos da Educação, enfatiza que a escola pública pode ser um espaço transformador para erradicar o capacitismo. “A escola é onde podemos redefinir compromissos com a humanidade. A diversidade traz desafios, mas também é uma oportunidade de crescimento coletivo”, disse.
O primeiro passo para a mudança
Reconhecer a existência do capacitismo é o primeiro passo para combatê-lo, segundo Régis Silva. “Tomar consciência é crucial. Muitas vezes, o capacitismo está enraizado em comportamentos e crenças que não percebemos”. Essa conscientização se dá através da educação, mas também da empatia. A interação com pessoas com deficiência deve ser vista como um aprendizado constante, que exige disposição para ouvir e compreender. “Deve-se perguntar mais e deduzir menos”, orienta Bara.
A escolha do comodismo
Bara observa que, frequentemente, as pessoas optam pela exclusão da convivência com deficientes, pois isso parece ser o caminho mais fácil. “As instituições, assim como as escolas, muitas vezes se esquivam da responsabilidade de incluir, associando a presença de deficientes ao risco de erro e desconforto social”, explica. Essa perspectiva estreita os horizontes da aprendizagem e da convivência, limitando a interação social a um mero estigma de incapacidade.
Superando o medo do erro
O medo de errar acaba por criar barreiras adicionais, onde a interação se torna um campo minado de insegurança. “A atual sociedade parece estar em um estado constante de vigilância sobre os erros alheios”, critica Bara. Essa postura, ao invés de incentivar o aprendizado, acaba por afastar as pessoas do assunto. “É essencial que todos entendam que errar é humano e faz parte do processo”, conclui.
Capacitação e formação contínua
Régis Silva argumenta que a eliminação do capacitismo começa com processos formativos que visem à conscientização e capacitação. Contudo, isso não basta. É necessário um comprometimento genuíno por parte da sociedade para mudar a percepção sobre as capacidades dos deficientes. “Precisamos pensar em uma pedagogia que compreenda a diversidade com a devida seriedade e compromisso”, diz.
A educação inclusiva não deve ser tratada como uma opção, mas como um direito fundamental. “As crianças com deficiência têm direito de estar na escola, e a escola precisa acreditar que tem o que ensinar a elas”, afirma Andreia. Este compromisso deve se estender a todos os aspectos do ambiente educativo, garantindo que o tempo de aprendizado e expressão de cada aluno seja respeitado e valorizado.
O papel da escuta ativa
Um elemento essencial para construir uma sociedade inclusiva é a escuta ativa. Andreia destaca que a comunicação deve ser adaptada, respeitando o ritmo e a forma de expressão de cada indivíduo, sem pressa ou pré-julgamentos. “Precisamos criar espaço para que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas”, conclui.
Ao refletirmos sobre a inclusão, é imprescindível que façamos um esforço coletivo para reconhecer e superar o capacitismo. Construir um ambiente mais acolhedor e inclusivo é um desafio que requer tempo, diálogo e disposição para aprender. Na educação, essa mudança é não só desejável, mas necessária para um futuro em que todos possam prosperar.
Para mais informações sobre acessibilidade e inclusão, acesse a série “Ser Acessível” e acompanhe as discussões sobre esse tema essencial na sociedade.