O Banco Central (BC) demonstrou um novo nível de confiança em sua avaliação sobre a desaceleração da atividade econômica, conforme mencionado na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na última terça-feira. Segundo o documento, mesmo com dados mistos, o BC registra uma moderação incipiente no crescimento, consequência, em parte, do processo de aumento dos juros, que devem mostrar impactos mais profundos nos próximos trimestres.
Objetivo de controlar a inflação
A moderação da atividade econômica é considerada um elemento “necessário” para que a inflação convirja até a meta estabelecida em 3,0%, que é a principal missão do Copom. Atualmente, a previsão é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) finalize 2025 em 4,8% e 2026 em 3,6%, com um intervalo de tolerância da meta que varia de 1,5% a 4,5%.
Em um trecho da ata, o BC comenta: “A conjuntura de atividade segue marcada por sinais mistos com relação à desaceleração, mas observa-se uma incipiente moderação de crescimento. Isso não diverge do cenário-base do Comitê, que envolve uma inflexão no período corrente, para, então, reduzir o dinamismo nos trimestres subsequentes.”
Impactos das taxas de juros
Em outro momento, o BC destacou que as taxas de juros “significativamente” contracionistas têm contribuído para essa moderação, refletindo-se no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio e nos balanços das empresas. A atuação do Copom já começa a impactar alguns indicadores de atividade e do mercado de trabalho.
Recorde em quase duas décadas
O Copom na reunião da semana passada decidiu aumentar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, elevando-a de 14,25% para 14,75% ao ano, o que representa o maior patamar dos juros básicos desde agosto de 2006. Neste novo cenário, o BC não deu sinais concretos sobre os próximos passos da política monetária, e o mercado está dividido entre uma possível manutenção em 14,75% ou um novo aumento de 0,25 ponto percentual.
Cautela nas próximas decisões
O colegiado enfatizou que o cenário atual de incerteza, especialmente fora do país, demanda “cautela adicional” e flexibilidade nas decisões que envolvem a taxa Selic. Desde setembro do ano passado, os juros já sofreram uma elevação de 4,75 pontos percentuais.
“Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e dados acumulados ainda a serem observados, exige cautela adicional na política monetária e flexibilidade para incorporar informações que impactem a dinâmica inflacionária”, sustentou o Copom. O comitê seguirá “vigilante”, destacando que a “calibragem” do aperto dos juros continua guiada pela meta de inflação.
Expectativas de inflação e riscos globalizantes
O Banco Central também foi enfático em sua análise sobre as expectativas e projeções de inflação, que continuam distantes da meta, e na necessidade de manter uma política monetária mais restritiva por um longo período. O Copom reconheceu que a incerteza global e os riscos associados à política monetária americana podem impactar as decisões de consumo e investimento no Brasil.
“A incerteza se materializou de forma muito mais intensa do que o esperado e prevê-se uma desaceleração na economia norte-americana mais acentuada do que antes calculada”, afirmou o BC. Eles também ressaltaram que as condições financeiras que imperam globalmente são cruciais, num ambiente de incertezas econômicas e geopolíticas expandidas.
Acompanhamento contínuo
O Copom se comprometeu a monitorar o ritmo da economia brasileira, o que é essencial na determinação de como a inflação evoluirá, especialmente no setor de serviços, e o impacto das oscilações da moeda sobre os preços. Todo esse cuidado se deve ao desejo de reestabelecer um cenário de crescimento econômico saudável e sustentável para os próximos anos.
Com um olhar atento às transformações globais e suas possíveis repercussões, o Banco Central busca calibrar suas ações de modo a garantir a estabilidade econômica, respeitando os compromissos estabelecidos com a população e o mercado financeiro brasileiro.