Após intensas negociações em Genebra, Estados Unidos e China estabeleceram uma trégua significativa na guerra comercial, com uma drástica redução, por 90 dias, das altas tarifas que havia sido imposta no mês anterior. Esse acordo, embora alivie os riscos de uma recessão na economia americana, não elimina a instabilidade geopolítica, levantando, ainda, diversas incertezas sobre os rumos do comércio global.
O acordo e suas implicações imediatas
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, descreveu as recentes conversas com o vice-premiê chinês, He Lifeng, e o representante de comércio internacional da China, Li Chenggang, como “produtivas” e “robustas”. Os dois países concordaram em reduzir suas tarifas em 115 pontos percentuais: os EUA diminuem suas taxas a produtos chineses de 145% para 30%, enquanto as tarifas de Pequim sobre itens americanos caem de 125% para 10%. Essa mudança representa uma flexibilização significativa e gera novas perspectivas tanto para os negócios brasileiros como para o mercado global.
Com essa nova dinâmica, há uma expectativa crescente de que o Brasil se torne um destino preferencial para produtos chineses, que antes eram direcionados aos EUA. Muitas empresas brasileiras já relataram um aumento nos envios provenientes da China, uma consequência direta do desvio de mercadorias devido às novas tarifas aplicadas no comércio entre as duas potências.
Aumento do volume de importações e novas oportunidades para o Brasil
Dados recentes mostraram que o volume de importações da China para o Brasil subiu 28,1% nos primeiros quatro meses de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Esse crescimento é evidenciado pelos relatos de empresas de logística e importadores, que notaram um aumento significativo no volume de envios da China, com ofertas e promoções enticing para o mercado brasileiro. Em abril, por exemplo, o aumento no volume de importações foi de 7,6%, ligeiramente abaixo dos 9,4% registrados em março, mas ainda assim expressivo.
Movimentação no setor logístico
Na Anjun Express, uma transportadora chinesa que atende desde pequenos vendedores até grandes plataformas de e-commerce como Shein e Temu, o volume de remessas aumentou entre 17% e 20% em abril, em relação a março. Em categorias específicas, como eletrônicos, o aumento chegou a 40%. A empresa recentemente inaugurou um centro logístico em Guarulhos, o que potencializou sua capacidade de triagem, permitindo um fluxo maior de produtos.
Segundo Andy Lu, vice-presidente da Anjun, as empresas que antes focavam no mercado americano estão agora direcionando suas atenções para a América Latina, e o Brasil surge como um alvo atrativo.
Expectativas do setor importador
Thiago Brito, líder do braço internacional da Total Express, relatou que, embora sua transportadora não tenha registrado um aumento substancial nas operações entre China e Brasil, houve um incremento no interesse de novos clientes pelo mercado brasileiro. Esses contatos incluem tanto fornecedores chineses quanto operadores logísticos que buscam formar parcerias para facilitar a distribuição em solo brasileiro.
As novidades no ambiente das importações refletem uma mudança de estratégia das empresas chinesas, que estão oferecendo condições melhores para atrair consumidores brasileiros. Michel Platini, presidente da Associação Brasileira de Importadores (Ambimp), observou um aumento nas remessas e um movimento natural entre as incertezas do comércio global, enfatizando que as ofertas se tornaram mais competitivas, com prazos de pagamento mais flexíveis e uma tentativa de atrair grandes compradores e consumidores finais.
Ganhos e desafios à vista
Além das condições financeiras mais favoráveis, novos métodos de engajamento estão sendo adotados. Bruno Porto, da consultoria PwC, destacou que a gamificação nas plataformas de e-commerce e marketplaces está se intensificando, com o objetivo de qualificar e ampliar o mercado. Esse fenômeno é resultado direto das novas negociações e do entendimento de que a adaptação ao novo cenário é crucial para competir em um mercado em constante evolução.
Embora a trégua na guerra comercial traga alívio, os desafios ainda persistem no horizonte. A instabilidade geopolítica continua sendo uma preocupação, e a comunidade de negócios está atenta às consequências que podem advir de quaisquer desastres futuros no andamento das relações comerciais entre as maiores economias do mundo.
O panorama atual sugere que o Brasil está bem posicionado para colher frutos desse novo entendimento entre os EUA e a China, mas se faz necessário que as empresas nacionais estejam preparadas para navegar junto às oportunidades e os desafios que emergem desse cenário dinâmico.