Com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, o tema da internacionalização do yuan e a proposta de um sistema de transações financeiras que não dependa do dólar americando ganharam destaque. O Brasil, como presidência temporária dos BRICS—grupo que engloba Brasil, Rússia, Índia, China e outros países—busca explorar essa possibilidade em um contexto de crescente interesse pela moeda chinesa.
Yuan: uma moeda em ascensão
Nos últimos anos, o yuan, moeda oficial da China, se estabeleceu como uma das principais moedas utilizadas no comércio internacional. Atualmente, é a quarta ou quinta moeda mais transacionada globalmente, dependendo do tipo de operação. O seu crescimento é resultado de estratégias de política econômica que visam aumentar sua influência e adoção no cenário financeiro global. Em março de 2025, o yuan representava 4,1% das transações realizadas pelo sistema Swift, um aumento significativo em relação a 1,9% antes da pandemia de Covid-19.
Dados históricos mostram que em 2010, o yuan estava presente em apenas 0,9% de todas as operações de câmbio. Em contrapartida, esse índice saltou para 7% em 2022, conforme dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS). Isso coloca o yuan na quinta posição entre as moedas mais utilizadas num mercado que gira diariamente em valores exorbitantes—US$ 526 bilhões com o yuan, em comparação a US$ 6,6 trilhões do dólar.
Alternativas ao dólar na pauta brasileira
Durante sua visita, Lula descreveu as relações com a China como “indestrutíveis” e enfatizou que o Brasil prevê um volume de R$ 27 bilhões em novos investimentos provenientes de empresas chinesas. No entanto, a questão de um sistema financeiro alternativo ao dólar não estava formalmente na agenda. O governo brasileiro pretende avançar nesse debate na próxima reunião de ministros da Fazenda do BRICS, marcada para ocorrer no Rio de Janeiro, em julho. A expectativa é que esse encontro possibilite um progresso concreto nas soluções propostas para o uso de moedas locais em transações comerciais.
Aumento das tensões comerciais e a resposta do mercado
As tensões comerciais globais, particularmente desde o início da guerra comercial entre os EUA e China, também têm gerado um ambiente propício para a discussão sobre a relevância do dólar como moeda de reserva global. Os últimos dados mostram uma tendência de desvalorização do dólar, com especialistas questionando sua continuidade como moeda dominante. Por exemplo, em 2025, o dólar acumulou uma queda de 8% nas taxas de câmbio em relação ao real.
A presença cada vez maior do yuan nas transações bancárias e as discussões em torno de alternativas podem refletir uma mudança significativa na dinâmica das finanças globais. Discussões acadêmicas e do mercado indicam que, para muitos analistas, a questão da relevância do dólar está se tornando central no cenário atual.
Perspectivas para o futuro
Embora o yuan esteja ganhando espaço, ainda existe um longo caminho até que a moeda possa ser vista como uma alternativa viável ao dólar. Segundo especialistas, as medidas do governo chinês visam mais à proteção e independência nas transações comerciais do que à substituição do dólar como moeda de reserva global. A internacionalização do yuan requer uma abertura financeira que, até o momento, a China não pode oferecer.
A questão permanece se a mudança do yuan poderá desestabilizar a predominância do dólar, que continua a representar cerca de 88% das transações globais. O futuro do comércio internacional pode muito bem depender da habilidade de países como o Brasil e a China em navegar essas novas dinâmicas monetárias.
Resta saber como essas conversas e movimentações afetarão não apenas as economias dos países membros do BRICS, mas também o equilíbrio global que há muito tempo se apoiava na força do dólar americano.
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Ministros discutindo no encontro do BRICS que destaca o uso de moedas locais nas transações comerciais — Foto: Pablo Porciuncula/AFP