A montadora Nissan decidiu aumentar o número de demissões para 20 mil funcionários, superando em mais de 11 mil vagas o que havia sido planejado anteriormente. A decisão é parte de um plano maior para reestruturar a empresa, que enfrenta uma grave crise financeira, conforme noticiado pela emissora japonesa NHK.
Reestruturação em meio a crise financeira
Em novembro do ano passado, a Nissan já havia anunciado a redução de 9 mil empregos devido ao fraco desempenho nas vendas nos Estados Unidos e na China, que resultaram em uma queda impressionante de 94% no lucro do primeiro semestre. Agora, a empresa se vê obrigada a estender esses cortes, que representam aproximadamente 15% de sua força de trabalho total. Os empregos afetados estarão localizados tanto no Japão quanto em outros países onde a montadora opera.
A crise financeira da Nissan se agravou quando a empresa alertou seus acionistas, no mês passado, sobre a expectativa de um prejuízo líquido de até 750 bilhões de ienes (cerca de 5 bilhões de dólares) em seu exercício fiscal que se encerra em março de 2025. Isso ocorre em meio a um aumento de custos relacionados a reestruturações e uma queda contínua nas vendas.
Impactos das tensões comerciais globais
A situação da Nissan é ainda mais complexa devido ao ambiente competitivo, especialmente no mercado automotivo dos Estados Unidos e da China, que são cruciais para a recuperação da montadora. A forte concorrência e as tarifas impostas pelo governo anterior dos EUA influenciaram diretamente a performance de vendas da Nissan. As montadoras, em geral, também têm enfrentado dificuldades em diferentes graus, e a Nissan está entre as que mais sofrem as consequências.
Além disso, a falta de um robusto portfólio de veículos híbridos para atender a demandas específicas nos mercados-chave tem sido um ponto crítico para a montadora, que ainda lida com as repercussões da prisão e destituição do ex-presidente, Carlos Ghosn, em 2018. A crise de gestão e as disputas internas que se seguiram afetaram diretamente a estratégia e as operações da empresa.
Desafios e alternativas futuras
O cenário se complicou ainda mais após a tentativa de fusão com a Honda, que, embora inicialmente promissora, não se concretizou devido a divergências sobre o equilíbrio de poder entre as duas montadoras. A fusão, que poderia ter representado uma das maiores alianças do setor, foi oficialmente dissolvida em fevereiro, deixando a Nissan em uma posição ainda mais vulnerável.
Com novas lideranças, como a do recém-nomeado diretor executivo Iván Espinosa, a Nissan está sob pressão para apresentar estratégias eficazes para reverter a maré negativa e repensar seu futuro. O novo CEO pode esclarecer planos de continuidade ou novos cortes de produção e possível desinvestimento de algumas fábricas, especialmente em regiões onde o desempenho não é mais sustentável a longo prazo.
O futuro dos veículos elétricos
Em um mercado que tem mostrado uma crescente demanda por veículos elétricos, a Nissan também se vê em desvantagem, especialmente em comparação a concorrentes que estão investindo pesadamente neste segmento. Apesar de alguns esforços para posicionar-se no mercado de elétricos, a empresa não pode se dar ao luxo de continuar a perder terreno, especialmente diante do crescimento de marcas que oferecem produtos tecnológicos mais avançados e conectados.
Com um endividamento projetado para atingir US$ 5,6 bilhões em 2026, resposta à pressão do mercado e transformação de sua linha de produtos parecem ser imperativos. Nessa nova realidade, as montadoras que não se adaptarem rapidamente podem enfrentar consequências ainda mais severas.
As demissões e reestruturações da Nissan são um reflexo das mudanças dinâmicas no setor automotivo, exigindo agilidade e inovação para seguir em frente. Somente o tempo dirá como a Nissan navegará por essas águas turbulentas, mas a prioridade inegável agora é reverter a situação financeira e recuperar a confiança dos investidores.