No último domingo (11), durante uma visita à Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, o presidente interino Geraldo Alckmin (PSB) manifestou otimismo em relação às negociações comerciais entre Estados Unidos e China, que começaram no sábado (10) em Genebra. Alckmin ressaltou que o Brasil defende o multilateralismo e o livre-comércio, respeitando as normas estabelecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
O papel do Brasil no comércio internacional
Alckmin destacou a importância do Brasil no cenário do comércio exterior, mencionando que a China é o maior parceiro comercial do país e que os Estados Unidos se destacam como o principal investidor no Brasil. “Torço para que dê certo essa boa conversa, as relações comerciais são essenciais para a continuidade do crescimento econômico”, afirmou o presidente interino.
A primeira reunião entre representantes dos EUA e da China durou cerca de oito horas, com a participação de importantes autoridades, como o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, e o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng. De acordo com Bessent, as discussões apresentaram “avanços substanciais”, e novos detalhes sobre as conversas devem ser divulgados nesta segunda-feira (12).
Contexto das relações entre Brasil, EUA e China
As falas de Alckmin ocorrem em um momento de crescente tensão entre Estados Unidos e China, que competem por influência global. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já se encontra na China para um terceiro encontro oficial com o presidente Xi Jinping, buscando fortalecer as parcerias bilaterais. Lula tenta, assim, equilibrar as relações do Brasil com as duas potências, um desafio que tem se ampliado em meio às tensões que permeiam a política internacional.
Comércio e investimentos
É importante notar que o comércio entre Brasil e China tem se mostrado vantajoso para o país sul-americano. Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente U$ 94 bilhões para a China, com uma balança comercial positiva, em contraste com o déficit que o Brasil apresenta nas transações com os Estados Unidos, onde as exportações totalizaram U$ 40,3 bilhões, enquanto as importações chegam a U$ 40,6 bilhões.
Os dados do Banco Mundial de 2022 mostram que os EUA continuam sendo o maior parceiro comercial da América Latina, representando 41% das exportações, comparados a 12% das exportações para a China. Contudo, a presença chinesa na região vem crescendo, e o saldo positivo nas transações comerciais com a China torna essa relação crucial para o Brasil.
Desafios geopolíticos e a posição do Brasil
A questão que se coloca é se o Brasil estaria, de fato, sob pressão para escolher entre os dois gigantes econômicos. Especialistas afirmam que essa escolha é remota, uma vez que o Brasil possui uma tradição diplomática que preza pela neutralidade e por evitar alinhamentos automáticos. Para muitos, os interesses econômicos do Brasil, que dependem fortemente do mercado chinês, dificultam essa “escolha.”
O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, lembra que o Brasil sempre procurou manter boas relações com todos os países, afirmando que a escolha entre os EUA e a China não se aplica à realidade brasileira. “Queremos que os EUA continuem a ser um parceiro significativo, mas temos outros aliados importantes, como a China”, declarou Amorim.
Implicações econômicas e políticas
Há um debate crescente sobre as implicações da presença comercial chinesa na América Latina. Donald Trump, ex-presidente dos EUA, indicou que os países da região teriam que optar por lados em um embate de interesse econômico. Entretanto, essa visão é considerada míope por analistas, que argumentam que as economias da América Latina, especialmente a brasileira, não se beneficiariam ao se alinhar integralmente com uma das potências.
Com o Brasil exportando produtos commodities em grande escala, a dependência em relação à China é inegável, mas os laços com os EUA também são cruciais, principalmente em áreas como tecnologia e investimento. Assim, a postura do Brasil se mantém firme em manter canais de diálogo com ambos os países, preservando sua autonomia e evitando se tornar um peão em um jogo de xadrez geopolítico.
Em suma, a expectativa é que o Brasil continue a navegar esse complexo cenário global com cautela, aproveitando as oportunidades de cooperação que surgirem, enquanto mantém sua posição de neutralidade em um mundo cada vez mais polarizado. As próximas semanas, com as reuniões e intercâmbios que estão por vir, serão cruciais para definir os rumos não apenas das relações entre os EUA e a China, mas também da posição do Brasil nesse contexto internacional.