O ritmo de trabalho está acelerado em consultorias e escritórios de advocacia especializados em intermediar negociações e dar suporte técnico a empresas chinesas interessadas em estabelecer bases no Brasil. Este aumento das atividades é um indicativo claro do crescimento significativo de investimentos produtivos chineses no país nos próximos anos.
Consultorias em alta demanda
A IEST Group, uma consultoria empresarial que já presta serviços a mais de 300 clientes chineses no Brasil, relatou um aumento significativo na procura por seus serviços: em 2024, foram contatadas por 40 empresas chinesas que demonstraram interesse em abrir subsidiárias brasileiras. Comparando com a média histórica de 15 a 20 contratos por ano, o crescimento é notável.
“O primeiro trimestre de 2025 foi muito positivo e acreditamos que o número de novos clientes irá superar o de 2024”, afirma Reinaldo Ma, sócio da consultoria. Essa movimentação inicial, com a abertura de subsidiárias, costuma ser um passo preliminar, levando, em muitos casos, à realização de investimentos produtivos mais robustos.
O olhar chinês para o Brasil
O ano de 2024 foi marcado pelo interesse crescente da indústria automobilística chinesa no Brasil, onde pelo menos oito montadoras realizaram sondagens no mercado local. Entre os exemplos, a Geely firmou um contrato com a Renault para produzir carros elétricos em São José dos Pinhais (PR), e a GAAC anunciou um investimento de US$ 1 bilhão até 2029 para construção de uma fábrica no país.
Em 2025, empresas que integram a cadeia produtiva dessas montadoras, como fabricantes de autopeças, também começam a sondar oportunidades no território brasileiro. “Em sua maioria, são empresas de porte médio, mas que detêm tecnologia, buscando cooperação com empresas locais”, explica Hsia Hua Sheng, vice-presidente no Brasil do Banco da China (BoC).
Consultas e investimentos no setor de mineração e agropecuário
Além do setor automobilístico, Reinaldo Ma nota um aumento expressivo nas consultas de empresas mineradoras chinesas em busca de ativos no Brasil. Um exemplo marcante foi um acordo realizado em fevereiro, no valor de US$ 500 milhões, que permitiu à MMG Singapore Resources assumir ativos de níquel da Anglo American. Outra companhia, a Huaxin Cement, investiu US$ 186 milhões na aquisição de ativos da Embu S.A., uma das maiores pedreiras do Brasil.
Ademais, o interesse chinês parece estar voltado também para o setor agropecuário, com foco na venda de insumos, fertilizantes, defensivos agrícolas e maquinário, incluindo drones. “Vamos assistir a uma forte expansão da presença chinesa no agro e na mineração brasileira nos próximos anos”, conclui Ma.
O cenário para 2026 e além
Marcos Ludwig, líder do China Desk da Veirano Advogados, aponta que a intensidade de consultas e visitas de delegações de empresas chinesas ao Brasil tem sido a maior que se viu em muito tempo. “Nos últimos 12 meses, o aumento dessa atividade é evidente”, comenta. Ele acredita que esse momento seja principalmente de sondagem, que se reflete em expectativas de anúncios de negócios para 2026.
Os interesses das empresas chinesas em relação ao Brasil abarcam, além de setores já mencionados, energias renováveis, como solar e eólica, além de tecnologias de captura de carbono. Existe um grande potencial investimento em ativos de geração de energia e na cadeia produtiva de equipamentos, como painéis solares e turbinas eólicas.
Também se observam sondagens na área de saúde, abrangendo desde equipamentos médicos até vacinas. Negócios na economia digital estão mais avançados, com iniciativas como o lançamento da plataforma de e-commerce da rede social Kwai e a entrada da Meituan no mercado de delivery no Brasil.
Reconsiderações sobre o apetite por investimentos
O aumento do apetite chinês por negócios no Brasil é uma boa notícia após um período desafiador em 2022 e 2023, onde os resultados foram inferiores à média histórica. De acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), os investimentos totalizaram US$ 1,3 bilhão em 2022, com um leve aumento para US$ 1,73 bilhão em 2023, bem abaixo da média entre 2016 e 2019 de aproximadamente US$ 6,53 bilhões.
Tulio Cariello, do CEBC, reforça que, apesar das dificuldades, não houve um desinteresse, já que foram confirmados 29 projetos em 2023, representando o terceiro melhor desempenho desde 2007. “Os anos de 2022 e 2023 foram caracterizados por negócios que requerem menos capital, mas o Brasil continua a ser um destino importante para os investimentos chineses”, finaliza Cariello, apontando que os dados preliminares sobre 2024 são animadores.