Após elevar a taxa Selic ao maior patamar em quase 19 anos, o Banco Central (BC) se reservou ao direito de deixar em aberto seus planos para as próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). No entanto, recentemente deu sinais de que a alta desta quarta-feira pode ter sido a última do atual ciclo de aperto de juros. Essa notícia é cercada de expectativa entre economistas e cidadãos, que acompanham a evolução das taxas e seus impactos na economia.
A alta da Selic e seus impactos
Nesta quarta-feira, 7 de maio, o Copom decidiu aumentar a Selic em 0,50 ponto percentual, passando de 14,25% para 14,75% ao ano. Essa nova taxa é a mais alta desde agosto de 2006, quando o Brasil enfrentava um panorama econômico semelhante. O cenário atual, marcado por um aumento global no preço das commodities e alta inflação, fez com que a necessidade de contenção se tornasse uma prioridade para o Banco Central.
Economistas consultados pelo GLOBO interpretam o comunicado do BC como um sinal de que a próxima reunião pode resultar em uma pausa ou até mesmo uma interrupção nas elevações da taxa Selic. Apesar das projeções de inflação ainda se mostrarem distantes da meta de 3,0%, a variação nos riscos inflacionários e a cautela do BC apontam que o fim do ciclo de altas pode estar mais próximo do que se imaginava.
Projeções e incertezas econômicas
Para o fim de 2026, o Banco Central trabalha com uma projeção de inflação de 3,6%, o que é considerado um claro sinal de que o cenário ainda exige atenção. Entretanto, a nova comunicação do BC aponta para uma percepção de que os riscos inflacionários podem estar mais equilibrados do que antes, já que passaram a considerar tanto as ameaças à inflação quanto os riscos de desinflacionamento.
Um cenário internacional em mudança
As alterações no cenário econômico global, como o aumento das tarifas impostas por países como os Estados Unidos, apresentam novos desafios para o Brasil. A inclusão de uma nova ameaça à inflação menor, vinda de uma possível redução nos preços das commodities, também foi citada em comunicados recentes. Isso reflete uma postura proativa do Banco Central em relação a eventos externos que podem impactar a economia interna.
Cautela e vigilância do Banco Central
O Banco Central manifestou em seu comunicado que a atual política monetária deve permanecer em um “patamar significativamente contracionista por período prolongado” para assegurar a convergência da inflação à meta. Essa abordagem reflete um entendimento de que, embora as elevadas taxas de juros possam ser necessárias, é crucial que haja flexibilidade para ajustar as políticas caso novos dados econômicos relevantes sejam apresentados.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, ressaltou que a Selic já se encontra em um patamar restritivo, o que implica que mudanças devem ser cuidadosamente planejadas. Apesar de constatar que o ciclo de alta pode estar chegando ao fim, Veronese adverte que isso não significa que cortes nas taxas sejam iminentes. A vigilância sobre a inflação e a previsibilidade das expectativas de mercado continuam sendo fatores determinantes na tomada de decisão do BC.
Expectativas do mercado
A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, compartilha a visão de que a alta de 14,75% pode ser suficiente para guiar a inflação até a meta, desde que se mantenha por um período. A perspectiva é de um possível corte da Selic em dezembro, o que seria uma resposta tímida se as condições econômicas permitirem. Contudo, o consenso entre os economistas demonstra uma divisão de opiniões sobre a eficácia de continuar com uma política agarrada nesta meta.
À medida que os economistas monitoram a evolução dos indicadores econômicos e o impacto das políticas monetárias, a expectativa é que o próximo Copom se encontre em um dilema entre a necessidade de continuar o ciclo de altas ou optar por uma pausa estratégica. Essa decisão terá repercussões significativas para o Brasil, impactando não apenas a inflação, mas também o crescimento econômico a longo prazo.
Com um cenário repleto de incertezas e desafios, o papel do Banco Central é crucial na navegabilidade das águas econômicas do país. O governo e a sociedade civil seguirão de olhos atentos nas próximas reuniões do Copom, à espera de decisões que possam moldar o futuro econômico do Brasil.