A reunião de ministros das Relações Exteriores dos países do Brics terminou nesta terça-feira (29), no Rio de Janeiro, sem uma declaração conjunta, mas com um claro recado político: os 11 países membros e os convidados expressaram rejeição firme ao protecionismo e às guerras tarifárias, destacando a necessidade urgente de reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O posicionamento foi detalhado pelo chanceler brasileiro Mauro Vieira, que liderou os trabalhos como representante da presidência rotativa do bloco. Segundo ele, houve “consenso absoluto” entre os presentes sobre a importância da retomada do órgão de solução de controvérsias da OMC e o fim do uso de barreiras não tarifárias disfarçadas de medidas ambientais.

“O firme rechaço de todos à ressurgência do protecionismo comercial e ao uso de medidas não tarifárias sob pretextos ambientais ficou muito claro. A reforma da OMC é essencial na visão de todos”, afirmou Vieira.
Sem declaração conjunta, mas com acordos
O encontro terminou com a publicação de uma declaração da presidência brasileira, ao invés de um documento conjunto assinado por todos os membros. A decisão, segundo Vieira, visa “abrir caminho” para uma declaração mais sólida e negociada na próxima Cúpula de Líderes do Brics, marcada para julho.
Ainda assim, o chanceler garantiu que houve “compromissos e acordos firmes” durante o encontro e classificou o nível de engajamento político como um dos mais altos da história recente do bloco.
Brasil adota postura diplomática e defende diálogo global
Ao ser questionado sobre a tensão comercial entre Estados Unidos e China e seu impacto nas exportações brasileiras, Mauro Vieira evitou tomar partido. Ele reiterou que o Brasil atua como “ator global”, guiado pelo respeito ao direito internacional e à diplomacia multilateral.
“O Brasil procura manter relações baseadas no direito internacional. Estamos sempre prontos a conversar com todos”, disse.
Temas prioritários: reforma da ONU, clima e inteligência artificial
O encontro no Rio também foi marcado pela defesa de uma reforma nas estruturas de governança global. Os chanceleres pediram maior representatividade de Ásia, África e América Latina em instituições como o Conselho de Segurança da ONU, o FMI, o Banco Mundial e a própria OMC.
Com a aproximação da COP 30, que será sediada no Brasil em 2025, os países também discutiram temas como crise climática, governança da inteligência artificial e cooperação em saúde global.
Vieira destacou que o Brics pode atuar como protagonista nessas áreas, buscando coordenar ações concretas e conjuntas. Ele alertou que “sem uma nova arquitetura de cooperação global, os desafios não serão superados”.
Participação inédita da Indonésia sinaliza expansão do bloco
Outro destaque foi a participação inédita da Indonésia como membro efetivo do Brics, vista como sinal do esforço do grupo por maior diversidade e representatividade geopolítica. A entrada de novos países reforça o projeto de expansão do bloco, que visa ampliar sua influência sobre os rumos da ordem mundial.