Que o papa é pop, todo mundo já sabia. Mas com o papa Francisco, essa frase ganhou contornos literais e simbólicos. Falecido nesta segunda-feira (22), aos 88 anos, no Vaticano, o papa argentino Jorge Mario Bergoglio não foi apenas o primeiro latino-americano e jesuíta a ocupar o trono de Pedro — foi também um dos mais progressistas da história da Igreja Católica e o único pontífice a se aventurar pelo universo do rock progressivo.
Um papa progressista em todos os sentidos
Durante seu pontificado, Francisco rompeu diversas barreiras ideológicas e culturais. Ficaram marcadas suas declarações a favor da dignidade da população LGBTQIA+, contra o racismo, a xenofobia, o machismo e a cultura bélica. Ele também foi uma das vozes mais firmes na crítica ao sistema econômico desigual e à destruição do meio ambiente, tendo inclusive escrito a encíclica “Laudato Si’”, considerada um manifesto ecológico moderno.
“Wake up!”: o álbum em que o papa Francisco virou voz do rock
Em 2015, com apenas dois anos de papado, Francisco surpreendeu o mundo com o lançamento do álbum Wake up!, um disco que mistura cânticos religiosos com música pop e rock progressivo. A produção, conduzida pelo italiano Don Giulio Neroni, apresenta trechos de sermões do papa em inglês, espanhol, italiano e até português, embalados por arranjos que flertam com Pink Floyd.
A faixa de destaque, “Wake up! Go! Go! Forward!”, traz um discurso do papa feito na Coreia do Sul em 2014, sobre um fundo musical marcante. A composição é assinada por Tony Pagliuca, ex-integrante da banda de rock progressivo italiana Le Orme.
Nos Estados Unidos, o álbum chegou à 50ª posição na parada de álbuns cristãos e à quarta colocação entre os álbuns de world music — feito inédito para um papa.
Francisco, capa da Rolling Stone e ícone cultural
O carisma de Francisco transcendeu os púlpitos e chegou às bancas. Em 2014, tornou-se o primeiro papa a estampar a capa da revista Rolling Stone, um símbolo da cultura pop global. A publicação o saudou como um “Papa do diálogo, das portas abertas, da hospitalidade”.
Diferente de seus antecessores, Francisco flertou com a arte contemporânea e a comunicação moderna, dialogando com jovens e não fiéis, com mensagens de esperança e inclusão.
Embora João Paulo II e Bento XVI também tenham lançado álbuns — com sons mais voltados à música sacra ou estilo new age — nenhum chegou perto da ousadia estética e simbólica de Wake up!. Com esse álbum, Francisco não apenas pregou para seus fiéis, mas também cantou para o mundo.