A “caminhada silenciosa” emergiu como uma nova tendência no universo do bem-estar, mesclando meditação e atividade física com o intuito de aprimorar a saúde mental. Diferentemente da popular “caminhada da garota gostosa”, que se baseia em metas e gratidão, a caminhada silenciosa não tem outra agenda além de simplesmente colocar um pé na frente do outro e observar o mundo ao redor.
O que é a caminhada silenciosa?
Originária de tradições antigas que se fundamentam na “atenção plena”, a caminhada silenciosa é definida como uma prática que permite que os indivíduos se conectem com suas sensações físicas, pensamentos e emoções presente ao momento, sem qualquer forma de julgamento. Essa prática oferece uma maneira de relaxar e se desconectar do estresse cotidiano, sendo um refúgio na correria da vida moderna.
Pesquisas indicam que caminhar, mesmo que por um curto período de apenas 10 minutos, pode estar associado a uma vida mais longa e saudável. Um estudo publicado em 2020 no The Journal of Environmental Psychology revelou que uma caminhada de 30 minutos em um parque urbano pode reduzir significativamente o tempo que os indivíduos passam em pensamentos negativos, além de melhorar a criatividade e contribuir para a prevenção da depressão.
Testemunhos de quem pratica
Arielle, que se dedica à caminhada silenciosa por pelo menos 45 minutos, quatro vezes na semana, relata que desde que adotou essa prática, há cerca de um ano, vem percebendo melhorias significativas em sua qualidade de vida. “Durmo melhor, me sinto mais calma e mantenho uma energia mais consistente durante o dia”, afirma.
No entanto, para algumas pessoas, a ideia de caminhar em completo silêncio pode gerar desconforto. Um estudo realizado em 2014 revelou que muitos preferem ficar sem fazer nada a ficarem sozinhos com seus pensamentos. Os autores desse estudo observam que “a maioria das pessoas parece preferir não fazer nada em vez de se confrontar com seus próprios pensamentos, mesmo que isso seja negativo”.
Os benefícios da caminhada silenciosa
Especialistas sugerem que a caminhada pode tornar mais agradável o tempo que passamos sozinhos. Erin C. Westgate, professora assistente de psicologia na Universidade da Flórida, investigou como o ato de caminhar ou utilizar transporte público é frequentemente relacionado a momentos de diversão nos próprios pensamentos. Ela ressalta que essa prática “não é tão exigente a ponto de ocupar nossa mente, permitindo-nos sonhar acordados”.
Nos dias atuais, onde a atenção é cada vez mais dispersa, a caminhada silenciosa se torna ainda mais relevante. Estudo da professora Gloria Mark da Universidade da Califórnia, Irvine, revela que as pessoas agora gastam em média apenas 47 segundos em um conteúdo na tela antes de mudar para outra tarefa. No passado, essa média era de dois minutos e meio em e-mails. Essa mudança evidencia uma diminuição da capacidade de atenção ao longo das últimas duas décadas.
A professora Mark sugere que momentos de desconexão, como a caminhada silenciosa, podem atuar como um estímulo para a mente, ajudando a recarregar nossas energias e melhorando nosso desempenho geral. “Desconectar-se temporariamente pode realmente aumentar sua capacidade mental”, afirma.
Reflexões sobre a vida moderna
A professora David M. Levy, da Universidade de Washington, ressalta que, em uma sociedade que prioriza a produtividade, é fundamental buscarmos oportunidades para nos contentarmos com o presente. Ele observa que muitos sentem que estão constantemente atrasados, o que gera uma distração tão intensa que pode impedir a atenção plena ao momento actual.
Em sua análise, Levy destaca a beleza do mundo externo e como uma pausa da tecnologia pode abrir espaço para a apreciação do presente, incentivando as pessoas a desacelerarem e a se reconectarem consigo mesmas. “Há uma grande beleza e vitalidade no mundo fora do que estamos fazendo em nossos dispositivos”, conclui.
Assim, a caminhada silenciosa se apresenta como mais do que uma simples atividade física; ela se converte em uma prática de autoconexão e autorreflexão, vital em tempos tumultuados e agitados.