A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou nesta quinta-feira (6) a liberação de US$ 110 milhões (aproximadamente R$ 633 milhões) de seu Fundo Central de Resposta a Emergências (CERF) para amenizar os impactos dos recentes cortes na ajuda humanitária global. Essa medida surge em resposta à decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de praticamente congelar toda a ajuda externa, afetando significativamente programas de assistência em diversas regiões do mundo.
Cortes na ajuda humanitária global pelos EUA
A administração Trump implementou uma suspensão de 90 dias em quase toda a assistência externa, resultando no cancelamento de aproximadamente 10.000 subsídios e contratos de ajuda, o que reduziu em cerca de 90% as operações da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Esses cortes abruptos impactaram negativamente organizações humanitárias globais, levando à demissão de funcionários e à interrupção de projetos essenciais, como distribuição de alimentos e programas de saúde.
Destinação dos fundos da ONU
Para amenizar os efeitos desses cortes, a ONU direcionará os US$ 110 milhões liberados para reforçar a assistência em dez das crises mais subfinanciadas e negligenciadas no mundo, abrangendo países na África, Ásia e América Latina. Um terço desses recursos será destinado ao Sudão, que enfrenta uma das piores crises humanitárias globais, e ao Chade, que acolhe refugiados provenientes do conflito sudanês. Outros países beneficiados incluem Afeganistão, República Centro-Africana, Honduras, Mauritânia, Níger, Somália, Venezuela e Zâmbia.
Apelo por solidariedade
O subsecretário-geral da ONU para assuntos humanitários, Tom Fletcher, expressou preocupação com os efeitos dos cortes no financiamento, enfatizando que, embora as necessidades humanitárias permaneçam, o apoio financeiro está diminuindo. A ONU estima que, em 2025, mais de 300 milhões de pessoas dependerão de ajuda humanitária, mas o financiamento atual cobre apenas 5% dos US$ 45 bilhões necessários para atender a 185 milhões de pessoas vulneráveis.
Programas de Saúde e segurança alimentar
A suspensão da ajuda externa dos EUA também ameaça programas críticos de saúde, como os de combate ao HIV/AIDS, tuberculose e malária. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a interrupção desses financiamentos pode resultar em uma “ameaça global”, colocando em risco a vida de milhões de pessoas que dependem desses tratamentos. Além disso, a paralisação da USAID afetou a distribuição de alimentos e a assistência nutricional em regiões vulneráveis, exacerbando crises de fome e desnutrição.
Reações da comunidade internacional
A comunidade internacional manifestou preocupação com os cortes na ajuda humanitária dos EUA. Líderes globais e organizações não governamentais alertam que a redução do financiamento pode levar ao agravamento de crises existentes e ao surgimento de novas emergências humanitárias. Há também o temor de que a diminuição da presença dos EUA em ações humanitárias abra espaço para que outras potências, como China e Rússia, aumentem sua influência em regiões estratégicas.
Cooperação global
A ONU e outras organizações humanitárias enfrentam o desafio de suprir a lacuna deixada pelos cortes de financiamento. A necessidade de diversificar as fontes de recursos e fortalecer parcerias com outros países e doadores privados torna-se ainda mais urgente. A solidariedade internacional e o compromisso coletivo são essenciais para garantir que as populações afetadas por crises recebam o apoio necessário para sobreviver e reconstruir suas vidas.
OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) desempenha um papel fundamental na ajuda humanitária global, coordenando respostas a emergências de saúde, como surtos de doenças e desastres naturais. Em 2025, a OMS alertou que mais de 300 milhões de pessoas necessitariam de assistência humanitária urgente em diversos países, estimando a necessidade de US$ 1,5 bilhão para responder a essas emergências.
Além disso, a OMS colabora com outras entidades internacionais, como a Aliança GAVI e o Fundo de População das Nações Unidas, para promover campanhas de vacinação e melhorar a saúde materna e infantil em regiões vulneráveis. Durante a pandemia de COVID-19, a OMS foi essencial na coordenação de esforços globais para conter a disseminação do vírus e fornecer diretrizes de saúde pública.
Outras organizações humanitárias
Diversas organizações desempenham papéis essenciais na ajuda humanitária global, atuando em áreas como saúde, alimentação, educação e proteção de populações vulneráveis. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), fundado em 1863, é uma das mais antigas e respeitadas instituições humanitárias, oferecendo assistência a vítimas de conflitos armados e promovendo o respeito ao Direito Internacional Humanitário.
Outra entidade de destaque é a Médicos Sem Fronteiras (MSF), que fornece cuidados médicos de emergência em regiões afetadas por conflitos, epidemias e desastres naturais, operando em mais de 70 países. Além disso, organizações como a Mercy Corps focam em oferecer ajuda a pessoas em transição após desastres naturais, colapsos econômicos ou conflitos, promovendo o empoderamento social e econômico, educação e sustentabilidade ambiental. Essas instituições, entre outras, colaboram para aliviar o sofrimento humano e promover a dignidade em cenários de crise ao redor do mundo.