Nos últimos anos, cientistas têm se deparado com um fenômeno preocupante: a biofobia. Trata-se de um medo crescente ou aversão à natureza que afeta cada vez mais pessoas ao redor do mundo. Pesquisas recentes apontam que entre 4% e 9% da população mundial sofre com fobias de animais, levando pessoas a evitarem ambientes naturais e, consequentemente, enfraquecendo a conexão com a natureza. Esses achados podem ter implicações significativas para a saúde humana e para os esforços de conservação ambiental.
A biofobia em números
De acordo com uma revisão de 196 estudos realizados por pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, e da Universidade de Tóquio, a aversão ao mundo natural pode estar crescendo. Os pesquisadores descobriram que as pessoas que passam menos tempo na natureza desenvolvem sentimentos de medo e aversão mais intensos, criando um ciclo autoalimentado. Tais dados foram discutidos no artigo publicado no periódico Frontiers in Ecology and the Environment.
Além das fobias clínicas, muitos indivíduos simplesmente se sentem desconfortáveis em ambientes naturais, o que os leva a evitar parques e trilhas. A pesquisa indica que a maior parte dos estudos sobre biofobia se concentra em aranhas e mamíferos, ignorando outras espécies e a crescente aversão a animais inofensivos. Essa abordagem limitada deixa uma lacuna significativa no entendimento sobre esse fenômeno.
O problema das aranhas
Uma das descobertas notáveis da pesquisa é a predominância do foco em aranhas e mamíferos. Estudo após estudo, 98% deles investigam criaturas específicas, deixando de lado outros animais que também podem ser vistos com aversão pela população. Por exemplo, apenas 0,5% dos estudos analisaram anfíbios. O resultado é que os cientistas ainda conhecem muito pouco sobre o motivo pelo qual as pessoas desenvolvem aversões a espécies inofensivas.
Essas tendências indicam que o medo e o desprezo estão se espalhando além dos animais tradicionalmente considerados perigosos, como cobras e tubarões. Essa mudança na percepção pública pode estar ligada a fatores sociais, culturais e psicológicos.
Fatores que influenciam a aversão à natureza
O que causa a biofobia não é uma questão simples. Fatores individuais, como a psicologia de cada pessoa e sua sensibilidade à ansiedade, desempenham um papel importante. Além disso, aspectos físicos como idade, sexo e predisposições genéticas influenciam a forma como as pessoas reagem ao contato com a vida selvagem.
Porém, fatores sociais e ambientais são, possivelmente, os mais impactantes. Por exemplo, pessoas que vivem próximas a áreas onde há lobos podem desenvolver visões negativas ao longo do tempo, especialmente se houver frequente cobertura da mídia sobre perda de gado. As atitudes familiares, as crenças culturais e a cobertura midiática influenciam a maneira como as pessoas percebem a natureza.
A proliferação de histórias negativas nas redes sociais contribui ainda mais para esse problema. Relatos sobre ataques de tubarões, encontros com ursos ou cobras venenosas acabam ganhando destaque, enquanto experiências positivas com a natureza não recebem a mesma atenção. Isso reforça a ideia de que a natureza é algo a ser temido e não apreciado.
Consequências práticas da biofobia
As repercussões da biofobia vão além do desconforto individual; elas afetam a relação das pessoas com o meio ambiente. Aqueles que sentem medo da natureza tendem a evitar áreas naturais, prejudicando a conexão com o meio ambiente e diminuindo o apoio a iniciativas de conservação. Estudos indicam que indivíduos biofóbicos tendem a apoiar mais a eliminação de animais como ursos e lobos.
Esse quadro pode resultar em um ciclo vicioso: menos tempo na natureza gera mais medo, o que leva a ainda menos atividades ao ar livre e a uma desconexão progressiva. Cada geração pode se sentir menos conectada à natureza do que a anterior, aumentando o risco de desinteresse pelos esforços de conservação.
Desenvolvendo um entendimento mais amplo
Um aspecto importante destacado na pesquisa é a necessidade de ampliar o foco dos estudos sobre biofobia. Atualmente, 90% dos estudos analisam apenas um ponto no tempo, sem considerar como o medo evolui ao longo dos anos. Isso torna desafiador identificar quão rapidamente o problema pode estar crescendo.
Além disso, a pesquisa sobre a biofobia é predominantemente realizada em países ocidentais, com uma escassez de dados sobre a África, América do Sul e grande parte da Ásia. Isso sugere que as diferenças culturais podem levar a relações muito diferentes com a natureza.
Os pesquisadores concluem que é crucial que especialistas de diversas áreas colaborem para entender melhor como e por que o medo da natureza se espalha. Isso é vital para desenvolver soluções antes que a desconexão se torne irreversível.
Este artigo tem um caráter informativo e não se destina a aconselhamentos médicos. Indivíduos que enfrentam ansiedade ou fobias devem consultar um profissional de saúde qualificado.


