Aos 80 anos, Khaleda Zia, ex-primeira-ministra de Bangladesh e uma das principais líderes do país, faleceu nesta terça-feira (30), no Hospital Evercare, em Dhaka, após enfrentar uma doença prolongada. Ela, que além de sua trajetória política era uma dedicada aluna de escolas administradas por instituições católicas, deixou um legado de defesa dos direitos dos minoritários e avanços sociais.
De estudante carinhosa a líder política e católica emblemática
Nascida em 1945, na cidade de Jalpaiguri, Khaleda Zia cursou a escola St. Joseph’s em Dinajpur, uma instituição gerida por religiosos católicos, onde recebeu o apelido carinhoso de “putul” (boneca) dado por Sister Pia Fernandes. Sua educação em escolas de administração católica foi fundamental para sua formação, segundo registros tradicionais.
Filho do falecimento do marido, President Ziaur Rahman, em 1981, ela foi obrigada a assumir um papel político. Com a morte do líder, a então viúva foi convocada a unir o partido Bangladesh Nacionalist Party (BNP), tornando-se líder e, posteriormente, a primeira mulher chefe de governo do país. Sua trajetória de resistência e liderança a consolidou como uma das figuras mais influentes da história de Bangladesh.
Compromisso com minorias e reformas sociais
Durante seus mandatos, Khaleda impulsionou mudanças sociais, promovendo reformas no sistema parlamentar e estabelecendo o modelo de governo de transição, visando garantir a transparência nas eleições. Sua gestão também implantou programas de educação gratuita para meninas até o ensino médio e benefícios para estudantes rurais.
“Ela foi uma apoiadora dos cristãos e de outras minorias religiosas, defendendo uma sociedade mais inclusiva”, afirmou o bispo Gervas Rozario, vice-presidente da Conferência dos Bispos Católica de Bangladesh.
Amiga dos cristãos e defensor do Natal
Além de sua forte atuação política, Khaleda sempre foi vista como uma aliada da comunidade cristã. Father Albert Rozario, um sacerdote que comemorou o Natal ao lado dela três vezes, relembrou que a ex-primeira-ministra costumava dizer que “o Natal é para todas as religiões”.
Ela também apoiava o convívio harmonioso entre diferentes crenças, refletindo o espírito inclusivo que marcou sua trajetória, principalmente na época do Natal, que este ano coincide com sua morte. Essa relação próxima reforça seu legado de tolerância religiosa e respeito às minorias.
Repercussões e homenagens internacionais
As representantes de diferentes países manifestaram condolências pela perda de Khaleda Zia. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, destacou suas “contribuições importantes para as relações entre Índia e Bangladesh”, enquanto ministros de outros países da região, como Paquistão, Butão e Maldivas, também enviaram suas homenagens.
O governo interino de Bangladesh declarou luto oficial de três dias e estabeleceu um feriado nacional para o funeral, que será realizado nesta quarta-feira no parlamento do país. O representante do governo, o conselheiro chefe Muhammad Yunus, afirmou: “Hoje, o nosso país está em profundo luto. Perdemos uma grande guardiã da nação.”
Legado de uma líder católica no cenário político
Desde sua juventude, Khaleda enfrentou adversidades, mas sua perseverança a levou a liderar o BNP em momentos críticos, sempre defendendo os interesses dos mais vulneráveis. Sua trajetória ilustra uma interseção importante entre fé, identidade cultural e política em Bangladesh.
Da infância em escolas católicas ao mais alto cargo político, sua história incentiva a reflexão sobre o papel das minorias religiosas e o impacto de liderança comprometida na construção de uma sociedade mais pluralista e justa.
