A recente renomeação do Kennedy Center, que passou a incluir o nome do ex-presidente Donald Trump, provocou uma onda de reações negativas na cena artística e cultural dos Estados Unidos. A decisão, tomada por um conselho nomeado por Trump, não passou despercebida, e logo artistas começaram a cancelar suas apresentações, provocando um efeito dominó nas relações históricas que mantinham com a instituição.
Os impactos imediatos da mudança de nome
Após a decisão do conselho, renomados artistas, incluindo uma veterana banda de jazz, cancelaram suas performances programadas para o Ano Novo. Um tradicional concerto de jazz na véspera de Natal, que acontecia há quase duas décadas, também foi suspenso. Além disso, uma companhia de dança de Nova York retirou sua participação em uma apresentação comemorativa, resultando em uma perda de 40 mil dólares. Essas decisões, que envolvem questões financeiras e riscos profissionais, são reflexo de uma insatisfação profunda que não foi feita de maneira leviana.
A reação de Ric Grenell
Ric Grenell, o presidente interino do Kennedy Center e um leal defensor de Trump, parece ter adotado uma postura defensiva frente à reação dos artistas. Ele nega qualquer relação de causa e efeito entre a renomeação e os cancelamentos, alegando que a mudança despolitiza a instituição. Em sua narrativa, os artistas que se retiraram são rotulados como “ativistas políticos de extrema-esquerda”, deslegitimando suas decisões. Grenell insiste que a renomeação não gerou nenhuma repercussão negativa, mas a realidade parece contar uma história diferente.
A intimidação e o clima de medo
A situação se agravou quando Chuck Redd, renomado anfitrião do concerto de Natal cancelado, foi ameaçado publicamente por Grenell com uma ação judicial de um milhão de dólares. Tal atitude não é apenas uma resposta a críticas, mas uma tentativa clara de intimidar outros artistas que possam questionar a nova direção da instituição.
A posição dos artistas
Os artistas que optaram por cancelar suas apresentações não lançaram panfletos políticos. O grupo Cookers, uma seleta formação de jazz, destacou a importância da liberdade de expressão nas artes. Doug Varone, fundador de uma respeitada companhia de dança contemporânea, descreveu sua retirada como financeiramente devastadora, mas ao mesmo tempo, uma decisão moralmente esclarecedora. Esses relatos refletem uma resposta à mudança que ocorreu na própria instituição, não a uma ideologia abstrata.
Um novo cenário nas artes
Grenell argumenta que as artes devem ser “para todos”, mas sua abordagem define os limites dessa inclusão. Artistas são bem-vindos desde que aceitem a renomeação e se apresentem sem objeções. A conformidade parece ser o preço da neutralidade, e aqueles que se afastam são considerados saboteurs políticos. Essa dinâmica distorce o debate sobre a política na arte, tornando invisível a ação política exercida por aqueles que ocupam cargos de poder.
Consequências visíveis das mudanças
O custo desta estratégia já é percebido nos calendários de apresentações, com muitos eventos sendo cancelados. Instituições culturais saudáveis não perdem artistas dessa forma; a confiança é o que mantém os vínculos. Grenell reivindica que Trump “salvou” o Kennedy Center, mas um espaço revitalizado não se torna mais silencioso logo após uma rebranding. Se a renomeação foi, de fato, um sucesso, os cancelamentos não deveriam estar presentes.
O insucesso da renomeação é claro, e a reação dos artistas é uma resposta legítima a essa nova realidade. Grenell pode negar a sequência de eventos, mas o impacto na programação e na confiança artística é inegável. O calendário do Kennedy Center continua a registrar essas mudanças, mostrando o custo real da rebranding sob um nome controverso.
Este é um artigo de opinião. As opiniões expressas são de responsabilidade do autor.
