O presidente Lula decidiu substituir a ministra da Saúde, Nísia Trindade, após demonstrar insatisfação com os resultados da gestão na área. O cargo será ocupado por Alexandre Padilha, atual ministro das Relações Institucionais e ex-titular da Saúde no governo Dilma Rousseff. A posse está marcada para o dia 6 de março.
A decisão foi tomada após duas reuniões no Palácio do Planalto. Primeiro, Lula conversou com Nísia Trindade a sós. Depois, recebeu Alexandre Padilha para discutir a transição.
Em nota oficial, o Planalto afirmou que o presidente comunicou a substituição e agradeceu à ministra pelo trabalho à frente da pasta. Após a reunião com Lula, Nísia seguiu para o Ministério da Saúde e informou o secretário-executivo, Swedenberger Barbosa, sobre sua saída. A ex-ministra marcou uma reunião com sua equipe principal para esta quarta-feira, mas ainda não comunicou a decisão aos demais funcionários.
Motivos da demissão
A insatisfação de Lula com a gestão de Nísia Trindade vinha se acumulando nos últimos meses. O presidente reclamava da lentidão da pasta em entregar ações concretas que pudessem gerar impacto positivo para a população. A popularidade de Lula atingiu seu nível mais baixo desde o início do mandato, segundo o instituto Datafolha, e parte dessa queda foi atribuída ao desempenho da Saúde.
O principal motivo da saída de Nísia foi o programa Mais Acesso a Especialistas, que tem como objetivo ampliar a oferta de consultas, exames e cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto demorou dez meses para atingir 99% dos municípios, o que gerou insatisfação no Planalto. Além disso, o governo avalia que os benefícios da iniciativa não foram devidamente divulgados à população.
Outros problemas na gestão de Nísia também pesaram na decisão de Lula, como a explosão de casos de dengue, falhas na estratégia de vacinação e a falta de medicamentos essenciais no SUS, como a insulina.
Crise na vacinação e falta de comunicação
A política de vacinação foi um dos pontos mais criticados da gestão de Nísia. Em novembro de 2023, uma reportagem revelou que o governo deixou vencer 58,7 milhões de doses de imunizantes, um número 22% maior do que as perdas registradas ao longo dos quatro anos do governo Bolsonaro.
Além disso, Lula se irritou com a condução da crise da dengue. O presidente e seus auxiliares reclamaram que o governo gerou uma expectativa na população sobre a vacinação contra a doença, mesmo sem doses suficientes disponíveis no mercado naquele momento.
A relação da ministra com o Congresso também foi alvo de críticas. Parlamentares, especialmente do Centrão, reclamavam da dificuldade de acesso à ministra e da falta de articulação política para viabilizar repasses de recursos para suas bases eleitorais. Apesar das tentativas de aproximação nos últimos meses, as mudanças na equipe e a ampliação da agenda com deputados e senadores não foram suficientes para evitar sua saída.
Problemas na administração hospitalar
A crise na administração dos hospitais federais do Rio de Janeiro também desgastou a ex-ministra. A situação levou Lula a comentar publicamente, em dezembro de 2023, que o governo precisava encontrar uma melhor forma de gestão para essas unidades.
Atualmente, quatro hospitais estão passando por mudanças no modelo de administração: os hospitais federais de Bonsucesso, Andaraí, Cardoso Fontes e Servidores do Estado. As unidades do Andaraí e Cardoso Fontes passaram a ser geridas pela Prefeitura do Rio.
Outro episódio negativo na gestão de Nísia foi o escândalo de contaminação por HIV em um transplante realizado em um hospital da rede estadual do Rio de Janeiro. O caso gerou repercussão nacional e aumentou a pressão sobre a ministra.
Alexandre Padilha assume a Saúde
A escolha de Alexandre Padilha para o Ministério da Saúde tem como objetivo garantir uma gestão mais alinhada politicamente com o Planalto e melhorar a interlocução com o Congresso.
A tendência é que Padilha mantenha parte da equipe técnica de Nísia, incluindo Estela Haddad (Saúde Digital), Felipe Proenço (Atenção Primária) e Adriano Massuda (Atenção Especializada).
Com experiência na área, já que comandou a Saúde no governo Dilma Rousseff, Padilha terá o desafio de acelerar a execução dos programas prioritários e melhorar a comunicação das ações do ministério. Lula espera que o novo ministro consiga transformar as políticas públicas em resultados mais visíveis para a população e, assim, ajudar na recuperação da imagem do governo.
A posse de Padilha está marcada para a próxima quinta-feira, 6 de março. Enquanto isso, Nísia Trindade se despede do cargo sem ter conseguido consolidar sua permanência, apesar de sua trajetória técnica e do trabalho realizado durante a pandemia à frente da Fiocruz.