Um recente levantamento realizado pelo Instituto Pereira Passos revelou um cenário preocupante para o Rio de Janeiro, destacando a queda de 7% no número de nascimentos de cariocas em 2024, com 163 mil bebês registrados, 12 mil a menos em comparação ao ano anterior. O estudo, que apresenta um raio-x da população carioca, também evidencia as desigualdades marcantes entre as diferentes regiões da cidade, que precisam ser abordadas nas políticas públicas.
Nascimentos e a distribuição populacional
A Zona Oeste do Rio concentra o maior número de crianças com até quatro anos. Bairros como Campo Grande e Santa Cruz possuem entre 15 mil e 19 mil crianças nessa faixa etária. Em contrapartida, a Zona Sul, com bairros nobres como Leblon, Ipanema e Lagoa, registra no máximo 1,5 mil crianças. Essa discrepância na distribuição demográfica reflete os contrastes sociais e econômicos que permeiam a cidade.
Os dados apresentados pelo estudo são considerados essenciais pela urbanista Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil no Rio (IAB-RJ). Para ela, essas informações podem guiar a formulação de políticas públicas eficazes: “Eles permitem compreender a vida urbana de forma transversal, dialogam com saúde, educação, mobilidade, transporte, habitação e desenvolvimento urbano”, destaca Abla.
Desigualdade de renda entre as regiões
Além dos dados sobre natalidade, o relatório também expõe uma desigualdade significativa na renda por domicílio. A faixa litorânea que abrange partes da Zona Sul e da Zona Oeste, como a Barra da Tijuca, apresenta rendimentos que variam entre R$ 7,5 mil e R$ 18,1 mil mensais. Por outro lado, áreas da Zona Oeste, como Acari e Costa Barros, mostram índices alarmantes, com rendimento médio que não ultrapassa R$ 3 mil. Em Acari e outros locais, a renda média é inferior a R$ 1,5 mil, refletindo a dura realidade de uma parte significativa da população carioca.
Condições de vida nas favelas
Outro aspecto relevante do estudo do IBGE, divulgado em novembro, aponta que 34% dos moradores de favelas na cidade vivem em áreas inacessíveis para veículos, um índice superior à média nacional de 19%. Na Rocinha, por exemplo, 81,9% das vias não permitem a circulação de automóveis de quatro rodas. Além disso, a falta de infraestrutura nas comunidades dificulta o acesso a serviços básicos, impactando diretamente na qualidade de vida.
A escassez de áreas verdes também é uma questão crítica levantada na pesquisa. Em locais como Rio das Pedras, 95% das ruas não têm árvores, e em comunidades como Morro da Coroa e Cantagalo, 100% das vias não oferecem sombra. A urbanista Marcela Abla ressaltou a importância de iniciativas que podem ajudar a melhorar essas condições: “É preciso pensar em grandes parques, mas também em pequenos jardins e praças de convívio, que diminuam as altas temperaturas e ampliem a qualidade de vida”, afirmou.
Desafios e perspectivas para o futuro
Os dados do levantamento do Instituto Pereira Passos servem como um alerta para autoridades e sociedade civil sobre a necessidade de promover um desenvolvimento urbano mais equitativo no Rio de Janeiro. A desigualdade social, a queda no número de nascimentos e a precariedade das condições de vida em algumas regiões exigem ações concretas e urgentes.
À medida que a cidade avança, o desafio é harmonizar o crescimento econômico com a inclusão social, garantindo que todos os cariocas tenham acesso a serviços de qualidade e a uma vida digna, independentemente da região em que residem. As informações levantadas não devem ser vistas apenas como um diagnóstico, mas como uma oportunidade para o aprimoramento das políticas públicas que moldarão o futuro do Rio de Janeiro.
Este estudo lança luz sobre a complexidade do cenário carioca e reafirma a responsabilidade coletiva em buscar soluções que promovam a justiça social e a melhoria da qualidade de vida de todos os cidadãos.


