Localizado na Rua São José, no coração de Juazeiro do Norte, o casarão histórico que foi lar do Padre Cícero Romão Batista se transformou em um museu que guarda não apenas a história de um dos maiores ícones da religiosidade nordestina, mas também a memória de uma devoção que atravessa gerações. Com sua fachada simples, mas respeitável, o local atrai tanto visitantes curiosos quanto romeiros em busca de um pouco de esperança e fé.
Um espaço de fé e história
No interior do casarão, encontram-se diversos objetos que foram oferecidos ao Padre Cícero ao longo de sua vida e após sua morte, refletindo a devoção popular que o cercou. Entre eles, destaca-se um osso de baleia, que os romeiros acreditam que possui poder curativo. A prática de passar as costas por ele é comum e atrai visitantes de várias partes do Brasil. Cida Silva, uma romeira de Santa Cruz do Capibaribe, conta que já é a décima vez que visita o museu e enfatiza a eficácia do ritual: “Me sinto melhor, curada”.
Objetos de devoção e curiosidade
O acervo do museu é um misto de fé e curiosidade, com itens como animas empalhados, que foram oferecidos ao sacerdote em agradecimento a milagres ou pedidos de proteção. Dentre esses objetos peculiares, uma cobra empalhada chama a atenção. De acordo com as histórias locais, o réptil não foi exatamente um presente ao Padre Cícero, mas uma artimanha usada para contrabando de pedras preciosas – uma curiosidade que revela a complexidade das ofertas feitas ao sacerdote.
Cultura popular e a personalidade do Padim
A figura do Padre Cícero sempre foi associada a um diálogo constante com a população. Historicamente, ele costumava ficar à janela, interagindo com os moradores, algo que permanece simbolicamente vivo na disposição da reprodução de sua imagem na janela do casarão. Essa proximidade ajudou a fortalecer seu papel como um líder espiritual querido, que ainda é cultuado e lembrado nas tradições da região.
O historiador Roberto Júnior destaca que a relação que os romeiros têm com o Padre Cícero é realmente única. A tradição do ex-voto, onde os fiéis deixam presentes em agradecimento a milagres, é um exemplo claro de como essa ligação transcende o tempo. “O ex-voto é o presente que é entregue na casa como prova do milagre”, explica.
Livros e saberes
Os livros que compõem a biblioteca do padre Cícero são uma janela para suas múltiplas curiosidades. Além da temática religiosa, havia obras sobre medicina e ciência, revelando seu interesse por conhecimento e suas influências em vida. O acervo, que inclui parte de sua coleção e a biblioteca do Memorial Padre Cícero, atualmente fechado para reforma, continua a ser fonte de aprendizado e inspiração para visitantes.
O legado do padre também inclui a presença constante de dinheiro em forma de ofertas, com visitantes depositando notas e moedas sobre sua imagem, como um símbolo de gratidão e fé que ainda perdura, mesmo décadas após sua morte. Esta prática simples evidencia o carinho que a população ainda dedica ao sacerdote.
Um convite à visita
A Casa Museu do Padre Cícero não é apenas um espaço para admirar objetos, mas um local para vivenciar a fé e entender como a cultura popular e a religiosidade estão entrelaçadas na história do Cariri. O administrador do museu, padre Laércio José de Lima Barbosa, convida todos a visitarem o local: “A todos que visitam a cidade, venham até a casa, não deixem de visitar”.
Se você está planejando uma visita ao Cariri, não deixe de conhecer este importante ponto de referência histórico e cultural. O museu está aberto de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 12h e das 14h às 17h, e aos sábados, das 7h30 às 12h. A experiência de explorar o casarão do Padre Cícero é, sem dúvida, uma viagem ao coração da fé nordestina.
O casarão não apenas conta a história de um homem, mas de uma devoção que continua a atravessar gerações. É um testemunho da rica tapeçaria cultural que define esta região do Brasil, convidando todos a se conectarem com suas raízes e histórias.


