A inteligência artificial (IA) tornou-se uma parte integral do cotidiano moderno, presente em milhares de aplicações e utilizada por milhões de pessoas. Com a facilidade de acessar respostas instantâneas e realizar tarefas complexas, a IA tem transformado a forma como interagimos com a tecnologia. No entanto, por trás dessa mágica digital, existe um impacto ambiental significativo que raramente é discutido. Para gerar uma simples imagem de um gato fofo andando de bicicleta, a IA depende de um extenso consumo de recursos, incluindo energia e água.
O funcionamento dos data centers
Ferramentas como ChatGPT, Google Gemini e Grok operam a partir de enormes data centers. Essas instalações, verdadeiras “fábricas de processamento”, abrigam múltiplos servidores que precisam de um suprimento constante de energia elétrica. O aquecimento gerado por esse intenso processamento demanda um grande investimento em sistemas de resfriamento, que utilizam uma quantidade considerável de água. Cada interação gerada por uma IA não é apenas uma resposta; é o resultado de um complexo sistema que se ativa toda vez que uma pergunta é feita.
Um estudo da Universidade Riverside apontou que, para cada 20 a 50 interações com IAs, aproximadamente 500 ml de água são utilizados. Considerando que o ChatGPT possui cerca de 800 milhões de usuários ativos semanalmente e mais de 122 milhões de acessos diários, é possível estimar um consumo alarmante. Um artigo da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) calculou que o uso da IA gera um consumo de 10 a 25 milhões de litros de água diariamente.
Consumo de água na inteligência artificial
Nicole Grossmann, economista formada pela Columbia University e especialista em IA, explica que a utilização de IA generativa depende de grandes data centers que requerem uma quantidade significativa de energia, resultando em grande geração de calor. Nesse contexto, a água se torna essencial para manter esses sistemas funcionando adequadamente. Ela esclarece:
“A água entra justamente como parte dos sistemas de resfriamento necessários para manter essa infraestrutura operando com segurança.”
A água aparece em três níveis na IA:
- No próprio data center, em sistemas de resfriamento (torres de resfriamento, chillers, circuitos de água gelada);
- Na geração de energia elétrica, já que muitas usinas termoelétricas usam grandes volumes de água para operação e resfriamento;
- Na cadeia produtiva do hardware, como na fabricação de chips e servidores.
Atualmente, o agronegócio é o maior consumidor de água no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), o uso total de água no Brasil é estimado em cerca de 90 trilhões de litros por ano, com a agricultura irrigada contribuindo significativamente para esse volume. As previsões indicam que, até 2040, a demanda setorial por água pode crescer até 30% em relação a 2022, colocando mais pressão sobre os recursos hídricos já limitados.
A busca por soluções sustentáveis
Diante desse cenário, Felipe Giannetti, especialista em IA e executivo da StackAI Brasil, afirma que não é uma regra que a IA sempre exigirá água para operar. Ele destaca que existem data centers que utilizam ar frio, reaproveitam água ou adotam fluidos especiais para resfriamento. Essa mudança pode contribuir para um ambiente menos dependente de recursos hídricos.
“Os modelos também estão ficando muito mais econômicos. A inovação está caminhando para tornar a IA mais sustentável e com maior desempenho.”
A especialista Nicole Grossmann enfatiza a importância de desenvolver sistemas de resfriamento mais eficientes, buscando alternativas como circuitos fechados ou imersão, onde o fluido circula sem ser constantemente evaporado e reposto.
“O desafio é tornar esse custo transparente, mensurável e o mais baixo possível. Na minha visão, conciliar a expansão da IA com limites ambientais passa exatamente por isso: reconhecer que há um preço físico por trás da nuvem e trabalhar para que esse preço não recaia sobre recursos hídricos que já são críticos em várias regiões do mundo.”
Assim, é essencial que o desenvolvimento contínuo da inteligência artificial esteja alinhado com a conscientização sobre seu impacto ambiental, promovendo a inovação em práticas mais sustentáveis que garantam um futuro mais equilibrado e responsável.


