Brasil, 25 de dezembro de 2025
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Impacto das recentes prisões da ICE sobre a construção no Texas

Em uma manhã de novembro, Mario Guerrero, diretor executivo da South Texas Builders Association, observou em um grupo de mensagens um vídeo perturbador: agentes de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE) abordando e detendo trabalhadores em um canteiro de obras no Vale do Rio Grande. O vídeo representou um triste alerta sobre a escalada das operações da ICE na região, que já contabilizam mais de 9.100 prisões desde a posse do ex-presidente Trump, afetando cerca de 20% do total no estado.

A preocupação com as consequências dessas ações se tornou uma realidade palpável, com muitos trabalhadores optando por não comparecer às obras por medo de serem abordados. Essa retração dos profissionais está diretamente ligado à desaceleração da construção civil, sinalizando um impacto econômico potencialmente devastador, conforme os economistas alertam sobre a possibilidade de aumento nos preços das moradias.

A reação da indústria da construção

Após visualizar as detenções, Guerrero sentiu que era hora de agir. Ele postou uma mensagem em vídeo nas redes sociais, destacando o sofrimento da comunidade de construção e convocando líderes locais para uma reunião com o intuito de discutir os desafios enfrentados. A mensagem foi clara: “As nossas pessoas estão machucadas e as nossas empresas estão sofrendo. Não há mão de obra”. Essa comunicação direta e sincera trouxe à tona uma preocupação já sentida nas comunidades, onde muitos perceberam os efeitos das prisões, mas poucos ousaram tocar no assunto.

Durante uma reunião marcada para abordar o tema, mais de 380 pessoas compareceram, incluindo trabalhadores de diversas áreas da construção. Os participantes relataram um cenário alarmante: negócios em queda e um mercado já fragilizado com o medo de mais operações da ICE. “Se isso continuar, muitas empresas irão à falência”, advertiu Ronnie Cavazos, presidente da associação.

O medo que paralisa a força de trabalho

Aos poucos, as histórias dos trabalhadores começam a emergir. Jesus, um trabalhador da construção que pediu para não ser identificado, compartilhou seu temor constante: “Estamos com medo de sair para trabalhar. As prisões afetaram drasticamente nossa renda, e agora mal conseguimos sustentar nossas famílias”. Ele mencionou que seus ganhos diminuíram em cerca de 60%, insuficientes para cobrir as necessidades básicas da sua família.

Esse cenário não é isolado. Muitos trabalhadores sentem a pressão e a insegurança geradas por essas ações. “A construção não pode continuar”, reforçou Isaac Smith, co-proprietário de uma loja de materiais de construção. Ele explicou que as operações da ICE tiveram um efeito devastador na logística e nas vendas, sendo que as vendas despencaram em dois dígitos, acarretando problemas de fluxo de caixa.

Consequências imprevistas para a economia local

A diminuição da força de trabalho na construção civil pode provocar uma escassez de moradias, levando a um aumento nos custos habitacionais. Isso não é uma novidade: pesquisas apontam que políticas de imigração anteriores já interferiram na oferta de moradias. Sob um programa do governo Obama, houve uma redução de 2% a 3% na força de trabalho no setor, provocando uma queda de 5,7% nas novas construções.

A situação atual, com as prisões em curso, pode ser ainda mais severa. Estima-se que a administração Trump tenha deportado mais de 600 mil pessoas, aumentando a pressão sobre o setor habitacional e exacerbando a crise da habitação no estado.

A busca por soluções e apoio

Após a reunião, Guerrero recebeu a atenção de diversos políticos, incluindo o congressista Henry Cuellar, que se mostrou interessado em levar a discussão para o nível federal. O encontro, apesar de otimista, foi marcado por uma opinião crítica de alguns que acusaram Guerrero de não se preocupar com os trabalhadores, mas sim de explorar a mão de obra barata. Ele refutou essas reivindicações, ressaltando o valor e a dignidade dos trabalhadores imigrantes.

À medida que Guerrero se mobiliza para expandir o diálogo, ele expressa a necessidade de que mais líderes reconheçam e abordem a urgência da situação. “As pessoas precisam entender a magnitude do problema que estamos enfrentando”, conclui Guerrero, enfatizando a necessidade de união e solidariedade em tempos difíceis.

O rumo da construção civil e a situação dos trabalhadores no Texas nas próximas semanas dependerá não apenas das decisões polêmicas dos líderes políticos, mas também da resiliência e união da comunidade. O desafio será grande, mas as vozes daqueles que constroem o estado estão sendo ouvidas.

*Reportagem no Vale do Rio Grande é apoiada em parte pelas Methodist Healthcare Ministries of South Texas, Inc.

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