Após a abertura de um memorial em homenagem a Ernesto Geisel, ex-presidente do Brasil durante a ditadura militar, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) se tornou alvo de uma ação civil do Ministério Público Federal (MPF). Em resposta a essa situação, a instituição enviou uma nota ao Metrópoles esclarecendo os desdobramentos relacionados ao acervo do memorial.
Transferência do acervo e condições do local
Segundo a UCS, o acervo que homenageava Geisel foi transferido para a prefeitura de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, devido à deterioração da edificação que abrigava o memorial. A nota menciona que a biblioteca do campus em Bento Gonçalves acolheu o acervo, que estava em uma antiga residência do ex-presidente e que passou a apresentar problemas estruturais.
A universidade informou ainda que o material não continha elementos que promovem ou celebram a figura de Geisel. Em sua nota, a UCS enfatiza que o acervo abordava a figura de Geisel estritamente como uma referência temporal e institucional, sem fazer apologia à sua presidência ou ao regime militar.
Reação do Ministério Público Federal
O MPF, que ajuizou um pedido de medida liminar visando a desativação do memorial, considera que a exposição é uma violação dos direitos à memória e à verdade. Para a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio Grande do Sul, a homenagem afronta a dignidade das vítimas da ditadura militar e os princípios democráticos do país.
“A exaltação institucional a agentes vinculados a crimes de lesa-humanidade é manifestamente inconstitucional e agrava o sofrimento de vítimas e familiares”, argumentou a procuradoria, reforçando que o uso de espaços educacionais para enaltecer figuras ligadas à repressão atenta contra o patrimônio imaterial da União e a ordem democrática.
Desdobramentos e compromisso da UCS
Na sua nota, a UCS reafirma seu compromisso com a pluralidade e a história que a marca. O juiz Bruno Risch Fagundes de Oliveira, responsável pela decisão de 17 de dezembro de 2025, indeferiu o pedido do MPF, permitindo que o memorial continuasse em operação, até que a universidade decidisse por sua remoção.
Embora a situação tenha gerado controvérsia, a UCS procura esclarecer que não há intenção de glorificar o ex-presidente, e que a figura de Geisel é tratada em seu contexto histórico. A instituição busca assegurar que o acervo pode ser uma ferramenta educacional, ao invés de um ato de celebração.
Impacto na comunidade e no debate histórico
A polêmica em torno do memorial levantou questões importantes sobre como o Brasil lida com sua história recente. A figura de Ernesto Geisel é complexa, envolvendo tanto a visão de um presidente que implementou uma política econômica significativa quanto a de um líder associado a violações de direitos humanos. Isso torna o debate em torno de sua memória ainda mais pertinente.
Uma discussão saudável e informada sobre esses períodos sombrios da história do Brasil é essencial para promover a educação, a verdade e a justiça, bem como garantir que as futuras gerações aprendam com o passado.
A reportagem tentou contato com o MPF para confirmar os detalhes sobre o indeferimento do pedido mencionado pela UCS, mas até o fechamento deste artigo não obteve resposta.
O desenrolar desta história poderá influenciar futuras decisões sobre como homenagear figuras históricas e como lidar com a memória nacional, refletindo sobre o que é mais importante: recordar os feitos de um líder ou reconhecer os direitos das pessoas que sofreram sob regimes opressivos?


