O bispo da Diocese de Charlotte, Carolina do Norte, Michael Martin, anunciou na semana passada que, a partir de 16 de janeiro de 2026, o uso de grades de altar, joelheiras e cadeiras móveis para a recepção da Comunhão será proibido na diocese. A decisão tem provocado reações de padres e fiéis, que criticam a abordagem rígida do líder religioso.
Normas que restringem práticas tradicionais na liturgia
Na carta pastoral divulgada em 17 de dezembro, Martin afirmou que, apesar de qualquer membro da Igreja poder ajoelhar-se para receber a Eucaristia de forma particular, a postura normativa para todos os fiéis nos Estados Unidos deve ser de pé, conforme orientações dos bispos americanos. Segundo o bispo, a mudança visa fortalecer a unidade litúrgica.
O próprio bispo destacou que práticas tradicionais, como o uso de grades no altar e joelheiras, não são fundamentadas nos documentos do Concílio Vaticano II, na reforma litúrgica ou nos textos atuais da Igreja, levando-o a decretar o fim dessas tradições na diocese. Em maio, uma versão vazada de uma carta mostrou que Martin pretendia restringir essas práticas por considerá-las desatualizadas e até “absurdas”.
Reações contrárias e divisões na comunidade
Padres e fiéis manifestaram insatisfação com a abordagem do bispo. Um padre que preferiu não se identificar afirmou à CNA que “todo mundo já cansou dessa postura autoritária”. Segundo ele, a liderança de Martin tem sido uma fonte de divisão na diocese, e muitas pessoas vivem um momento de dor emocional e espiritual devido às mudanças rígidas.
“Por que o ajoelhar-se é um problema? Por que insistir tanto nessas mudanças?”, questiona o padre. “Receber a comunhão é um momento de intimidade com Deus, e essa conversa toda só traz polêmica e má impressão”, afirmou. Ele também expressa esperança de que o tema seja discutido na próxima congregação de cardeais em Roma.
Papel das paróquias na formação das vocações
Segundo Brian Williams, defensor de comunidades tradicionais na diocese, cerca de 75% dos 44 seminaristas da região vêm de paróquias onde o ato de ajoelhar-se na recepção da comunhão é comum. Williams aponta que essas comunidades normalmente têm uma formação vocacional mais sólida, enquanto grandes paróquias modernas, que adotaram o rito mais superficial, não colaboram na formação de vocações ao sacerdócio.
William destaca que, apesar do crescimento de comunidades que mantêm práticas tradicionais, o bispo tem limitado cada vez mais a celebração da Missa na forma latina, excluindo a maioria das missas tradicionais, uma medida contestada por fiéis que desejam maior preservação das antigas tradições litúrgicas.
Críticas ao estilo de liderança do bispo
Além de padres, uma advogada canônica anônima começou a circular uma carta criticando a atitude de Martin. Ela acusa o bispo de ignorar a colegialidade e a consulta ao conselho presbiteral, alegando que suas decisões decorrem do gosto pessoal, e não da legislação ou tradição da Igreja. Segundo ela, a postura de Martin demonstra um entendimento de liturgia alinhado ao que o Papa Bento XVI chamaria de “hermenêutica da ruptura”.
Especialistas como Matthew Hazell, da reflexão litúrgica, comentam que o bispo parece ver o Rito Novo como uma invenção moderna, completamente dissociada da tradição e da própria natureza da Igreja, o que afasta os fiéis de uma experiência litúrgica mais reverente.
Impacto nas vocações e na participação litúrgica
Williams argumenta que a adoção do ato de ajoelhar-se está correlacionada ao aumento de vocações sacerdotais dentro da diocese. Ele afirma que as paróquias tradicionais que preservam práticas antiquadas têm produzido mais seminaristas do que as grandes comunidades modernas. Por exemplo, de um total de 44 seminaristas, a maior parte vem de paróquias onde o ato de ajoelhar é comum na recepção da Comunhão.
Em setembro, Martin restrictiu a celebração da Missa na forma tradicional em quase toda a diocese, isolando a missa em uma única capela pequena. Ele também criticou o uso do latim em celebrações, alegando que a compreensão dos fiéis será prejudicada, e que a participação ativa é fundamental para o crescimento espiritual.
Apesar das tentativas de impor essas mudanças, há vídeos de fiéis idosos ajoelhados durante a comunhão, desafiando as ordens do bispo. A Diocese de Charlotte não comentou oficialmente essas insatisfações, mas a controvérsia continua acesa na comunidade.



